Bactérias de rãs japonesas eliminam tumores de cólon em estudo inovador

Bactéria de rã elimina tumores colorretais em testes. (Foto: Getty Images via Canva)
Bactéria de rã elimina tumores colorretais em testes. (Foto: Getty Images via Canva)

A busca por terapias mais eficazes e menos agressivas contra o câncer colorretal acaba de ganhar um aliado inesperado. Pesquisadores do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia do Japão identificaram bactérias presentes no intestino de rãs-arborícolas japonesas capazes de eliminar tumores de forma surpreendente. O estudo, publicado na revista científica Gut Microbes, revela uma abordagem inovadora que pode redefinir o uso da microbiologia no tratamento do câncer.

Diferentemente das estratégias tradicionais focadas em modular o microbioma intestinal ou realizar transplantes fecais, a nova pesquisa avançou ao isolar e administrar diretamente cepas bacterianas específicas, com ação direcionada contra tumores.

Microrganismos com ação direta contra tumores

Ao analisar o sistema digestivo de rãs-arborícolas, tritões-de-barriga-de-fogo e lagartos-da-grama, os cientistas identificaram nove cepas bacterianas com atividade antitumoral. Entre elas, uma se destacou de forma excepcional: Ewingella americana.

Em modelos experimentais de câncer colorretal em camundongos, uma única aplicação intravenosa dessa bactéria resultou em taxa de resposta completa de 100%, com eliminação total dos tumores. Esses resultados superaram amplamente os observados em tratamentos convencionais, incluindo quimioterapia e imunoterapia.

Como a bactéria combate o câncer

O sucesso da Ewingella americana está relacionado a um mecanismo duplo altamente estratégico. Por um lado, a bactéria destrói diretamente as células tumorais. Por outro, ativa o sistema imunológico, induzindo a apoptose, o processo natural de eliminação de células danificadas ou cancerígenas.

Além disso, os pesquisadores observaram que a bactéria:

  • Se acumula seletivamente no tecido tumoral
  • Não se espalha para órgãos saudáveis
  • Não provoca inflamação sistêmica significativa

Após 24 horas, ela se torna indetectável na corrente sanguínea, e em até 72 horas o organismo retorna ao equilíbrio inflamatório.

Um possível avanço frente aos limites da quimioterapia

Microbiota de anfíbios revela potencial anticâncer. (Foto: Pexels via Canva)
Microbiota de anfíbios revela potencial anticâncer. (Foto: Pexels via Canva)

Um dos aspectos mais promissores do estudo é o perfil de segurança da bactéria. Diferentemente da quimioterapia, conhecida por seus efeitos colaterais severos, a E. americana mostrou-se bem tolerada nos testes iniciais.

Esse avanço surge em um contexto alarmante. O câncer colorretal vem crescendo entre adultos jovens e, se a tendência continuar, pode se tornar a principal causa de morte por câncer entre pessoas de 20 a 49 anos até 2030.

Próximos passos da pesquisa

Embora os resultados sejam altamente animadores, os pesquisadores reforçam que novos estudos são essenciais. As próximas etapas incluem:

  • Testes em outros tipos de câncer, como mama e pâncreas
  • Avaliação de formas mais seguras de administração
  • Estudos de combinação com terapias padrão

A descoberta reforça o valor da biodiversidade pouco explorada como fonte de soluções médicas inovadoras e abre caminho para uma nova geração de terapias anticâncer baseadas em microrganismos.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.