Aves europeias migram para o topo das montanhas com o calor crescente

Aves migram para altitudes mais altas com o aquecimento europeu (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Aves migram para altitudes mais altas com o aquecimento europeu (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O aquecimento global tem transformado significativamente o comportamento das espécies em todo o mundo, e as aves não escapam desse fenômeno. Nas montanhas europeias, muitas espécies estão migrando para altitudes mais elevadas, buscando condições mais frias e adequadas à sobrevivência. Este movimento, observado ao longo das últimas duas décadas, reflete a complexa interação entre clima, habitat e biodiversidade.

Um estudo recente publicado na revista Global Ecology and Biogeography analisou 177 espécies de aves distribuídas em quatro cadeias montanhosas importantes: Alpes, Pirenéus, Montanhas Escandinavas e Terras Altas Britânicas. Os resultados revelam que 63% das espécies estudadas deslocaram-se para altitudes maiores, com uma média aproximada de 0,5 metro por ano na década de 2000. Principais observações do estudo:

  • A migração mais rápida ocorreu na Escandinávia e nos Alpes;
  • A chasco-ruivo subiu em média 33 metros nas montanhas escandinavas desde 2001;
  • Nenhuma mudança significativa foi detectada na Grã-Bretanha e nos Pirenéus;
  • Encostas ensolaradas atraem mais aves devido à vegetação e recursos alimentares;
  • Microclimas locais podem oferecer refúgios temporários, mas não impedem o movimento geral para altitudes mais elevadas.

Microclimas e altitudes: refúgios temporários não bastam

Microclimas ajudam, mas não impedem movimento das aves nas montanhas (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Microclimas ajudam, mas não impedem movimento das aves nas montanhas (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A variação climática em curtas distâncias, conhecida como microclima, influencia diretamente o habitat das aves. Encostas voltadas para o sul tendem a ser mais ensolaradas, proporcionando temperaturas mais elevadas e vegetação abundante, enquanto encostas voltadas para o norte permanecem mais frias e úmidas.

Apesar dessas diferenças locais, a pressão climática generalizada está levando as aves a mover-se sistematicamente para áreas mais altas, independentemente da exposição solar. Isso indica que os impactos do aquecimento global superam pequenas vantagens climáticas oferecidas pelos microclimas.

Conservação em terrenos complexos

Montanhas são muito mais do que cenários majestosos: são bastiões de biodiversidade, abrigando espécies altamente dependentes de condições climáticas específicas. Com a migração para altitudes mais elevadas, planejamentos de conservação precisam considerar:

  • O movimento contínuo das espécies em resposta ao aquecimento;
  • A variação de microclimas que pode servir como refúgio temporário;
  • A importância de proteger altitudes mais elevadas, onde novas populações podem se estabelecer.

O estudo destaca que compreender os padrões de migração das aves é crucial para manter ecossistemas montanhosos resilientes, preservando a biodiversidade em um cenário de aquecimento climático progressivo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.