O canto matinal dos pássaros, tão comum em cidades e áreas verdes, pode revelar muito sobre ritmos biológicos e comportamento animal. Um estudo recente com tentilhões-zebra (Taeniopygia guttata) mostrou que a intensidade da cantoria aumenta quando o nascer do Sol é adiado, sugerindo que as aves têm uma expectativa ativa pelo amanhecer.
Essas descobertas ajudam a entender mecanismos hormonais e funcionais ligados ao canto, ampliando nosso conhecimento sobre comportamento animal e ritmo circadiano. Além disso, reforçam a ideia de que a luz solar desempenha papel essencial na regulação do comportamento matinal. Principais pontos do estudo:
- Tentilhões cantam com intensidade maior quando o Sol demora a aparecer;
- A luz influencia diretamente o início do canto matinal;
- Em completa escuridão, as aves permanecem ativas e vocalizam alto;
- Um interruptor de luz acionado pelos pássaros indica busca pela luminosidade;
- O canto matinal auxilia na preparação vocal e atração reprodutiva.
Luz e canto: uma conexão essencial
No laboratório, a alternância entre claridade e escuridão total permitiu observar que a presença de luz é um gatilho natural para o canto. Sem a iluminação, os tentilhões permaneciam em silêncio, enquanto a chegada gradual da luz aumentava a atividade vocal.

Quando a simulação do amanhecer era retardada, as aves demonstravam impaciência, elevando a intensidade do canto. Esse comportamento indica que os pássaros possuem mecanismos internos de percepção do tempo, provavelmente regulados por hormônios como a melatonina, que modulam o sono e o despertar.
Cantoria matinal revela função biológica e social
Além de marcar o início do dia, o canto matinal desempenha funções importantes na vida das aves. Entre elas, destaca-se a preparação vocal, que aquece as cordas vocais após o descanso noturno, e a comunicação para atração de parceiros reprodutivos.
Essa combinação de fatores sugere que o canto não é apenas uma resposta passiva à luz, mas sim um comportamento ativo e funcional, alinhado a estratégias de sobrevivência e reprodução.
Implicações para o estudo do comportamento animal
Esses achados, publicados em versão pré-print no bioRxiv e conduzidos pelo biólogo Ednei Barros dos Santos, ajudam a explicar por que o canto matinal é um fenômeno tão consistente em diversas espécies de aves. Além disso, reforçam a importância de estudos controlados de comportamento em cativeiro, que permitem observar respostas complexas a estímulos ambientais.
Compreender essa relação entre luz solar, hormônios e cantoria pode ter aplicações futuras em conservação de espécies e manejo ambiental, garantindo que aves mantenham ritmos naturais mesmo em ambientes alterados pelo ser humano.

