Astrônomos capturam estrelas explodindo em detalhes nunca vistos antes na galáxia

Novas estelares revelam fluxos complexos e raios gama no espaço (Imagem: The CHARA Array)
Novas estelares revelam fluxos complexos e raios gama no espaço (Imagem: The CHARA Array)

Observações recentes revolucionaram a forma como entendemos novas estelares, explosões que ocorrem quando uma anã branca acumula material de uma estrela companheira e desencadeia uma reação nuclear intensa. Pela primeira vez, astrônomos capturaram imagens dessas explosões poucos dias após a erupção, oferecendo detalhes sem precedentes sobre os fluxos de material e a dinâmica da ejeção.

O estudo internacional, publicado na revista Nature Astronomy, utilizou interferometria de alta resolução no CHARA Array, permitindo combinar a luz de múltiplos telescópios para criar imagens diretas das novas em rápida evolução. Entre as descobertas mais importantes estão:

  • Fluxos múltiplos de gás: as erupções não ocorrem em um único jato, mas em estruturas perpendiculares e complexas;
  • Ejeção retardada: algumas novas retêm material por semanas antes de liberá-lo, criando ondas de choque tardias;
  • Emissão de raios gama: detecções do telescópio Fermi vinculam os fluxos colidindo à radiação de alta energia;
  • Velocidade de evolução: novas como a V1674 Herculis brilham e desaparecem rapidamente, enquanto outras, como a V1405 Cassiopeiae, evoluem mais lentamente.

Esses detalhes desafiam a visão tradicional de novas como explosões simples, mostrando que o processo envolve múltiplas etapas e interações complexas entre os materiais ejetados.

Interferometria e espectroscopia: combinando técnicas avançadas

Explosões de estrelas mostram ejeções múltiplas e choques intensos (Imagem: Observatório CHARA)
Explosões de estrelas mostram ejeções múltiplas e choques intensos (Imagem: Observatório CHARA)

A capacidade de capturar essas estruturas vem do uso de interferometria, a mesma técnica que possibilitou imagens do buraco negro central da galáxia. Quando combinada com espectroscopia de telescópios como o Gemini, os cientistas puderam acompanhar a evolução química e cinemática do gás ejetado, confirmando a geometria dos fluxos e a formação de choques que geram radiação de alta energia.

Implicações para a física estelar

O estudo de novas estelares oferece um laboratório natural para investigar fenômenos extremos, incluindo a formação e propagação de ondas de choque no espaço, os mecanismos de aceleração de partículas em ambientes de alta energia e a conexão entre reações nucleares, ejeção de material e emissão de raios gama.

Essas descobertas transformam a compreensão de novas estelares, revelando que suas explosões são processos altamente estruturados e interativos, muito além de meros clarões de luz. Observações futuras prometem aprofundar ainda mais o conhecimento sobre a vida e morte das estrelas e sua influência no ambiente galáctico.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.