Arqueólogos encontram templo secreto da era suméria nas montanhas do Iraque

Registro arqueológico referente ao fim do Calcolítico e ao início do Bronze. (Foto: Divulgação / Universidade de Coimbra)
Registro arqueológico referente ao fim do Calcolítico e ao início do Bronze. (Foto: Divulgação / Universidade de Coimbra)

Nas montanhas do norte do Iraque, arqueólogos descobriram um templo oculto de 5.000 anos que pode transformar a compreensão sobre as origens da civilização mesopotâmica. 

O achado foi feito em Kani Shaie, um antigo assentamento localizado na base das montanhas Zagros, uma área que já revelava sinais de ocupação humana antiga, mas nunca uma estrutura dessa magnitude e mistério.

Uma construção monumental nas montanhas

O templo remonta ao período de Uruk (3300–3100 a.C.), uma das fases mais marcantes da história da Suméria, região considerada o berço da civilização. Os arqueólogos identificaram uma estrutura monumental construída sobre um monte, sugerindo que o local era usado para rituais religiosos ou cerimônias oficiais.

Pelo estilo arquitetônico e posição estratégica, acredita-se que o edifício tinha função pública ou espiritual, e não apenas residencial. Essa característica, somada à qualidade dos materiais encontrados, indica que Kani Shaie era muito mais importante do que se imaginava nas antigas redes políticas e culturais da Mesopotâmia.

Achados que contam histórias

Sitio arqueológico de Kanie Shaie. (Foto: Divulgação / Universidade de Coimbra)
Sitio arqueológico de Kanie Shaie. (Foto: Divulgação / Universidade de Coimbra)

Durante as escavações, a equipe encontrou selos cilíndricos, cones decorativos de argila e até um pingente de ouro, provavelmente usado como símbolo de status. Esses objetos reforçam a ideia de que o templo abrigava atividades administrativas e religiosas.

Os cones de parede, por exemplo, formavam mosaicos coloridos aplicados diretamente nas paredes de argamassa, criando padrões geométricos que serviam tanto como decoração quanto símbolo de poder e espiritualidade.

Entre os principais achados:

  • Selos cilíndricos: usados na autenticação de documentos e comércio.
  • Pingente de ouro: sinal de hierarquia ou devoção.
  • Cones de parede: elementos decorativos e rituais.

Um elo entre Uruk e os Montes Zagros

A cidade de Uruk, no sul da Mesopotâmia, é conhecida como o primeiro centro urbano da história e lar da escrita cuneiforme e da roda. A descoberta em Kani Shaie mostra que a influência de Uruk alcançava muito além das fronteiras conhecidas, integrando uma ampla rede de cultura e poder.

Com cerca de 480 km de distância entre os dois locais, a nova evidência indica que as relações entre Uruk e as regiões montanhosas eram mais intensas e organizadas do que se pensava, sugerindo um sistema político e religioso complexo.

Novas portas para o passado

Os arqueólogos que escavam o local desde 2013 acreditam que Kani Shaie guarda ainda camadas de história que podem revelar mais sobre a vida cotidiana, a religião e as relações de poder na antiga Mesopotâmia.

Cada novo achado traz à tona o retrato de uma civilização que já dominava técnicas de construção, arte e administração há mais de cinco milênios, lançando luz sobre um dos períodos mais fascinantes da humanidade.

A descoberta do templo oculto reforça que a Mesopotâmia não foi apenas o berço da escrita, mas também de uma espiritualidade elaborada e de uma sociedade conectada por símbolos, rituais e arte.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.