Aranhas revelam proteínas anticongelantes únicas que garantem sobrevivência no inverno extremo

Aranhas usam proteínas anticongelantes únicas para sobreviver ao inverno. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Aranhas usam proteínas anticongelantes únicas para sobreviver ao inverno. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Quando o frio intenso domina o ambiente e grande parte dos insetos entra em dormência, algumas aranhas continuam se movimentando como se nada estivesse acontecendo. Essa resistência ao congelamento sempre intrigou pesquisadores, e espécies do gênero Clubiona, importantes predadoras naturais em pomares, representam um dos melhores exemplos dessa façanha. Agora, um novo estudo publicado no The FEBS Journal revela a base molecular dessa habilidade: moléculas anticongelantes extremamente eficientes que atuam como um escudo contra o gelo.

Essas proteínas se prendem aos cristais de gelo em formação e impedem que cresçam, garantindo que os tecidos das aranhas permaneçam protegidos mesmo quando a temperatura cai abaixo de zero.

  • Aranhas Clubiona seguem ativas em pleno inverno;
  • Suas proteínas anticongelantes bloqueiam o crescimento de cristais de gelo;
  • As moléculas têm composição exclusiva e diferenciam-se de outros insetos;
  • A investigação molecular usou espectrometria de massa;
  • A descoberta pode fortalecer o controle biológico agrícola.

A surpreendente química por trás da sobrevivência

Moléculas especiais impedem que aranhas congelem em temperaturas extremas. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Moléculas especiais impedem que aranhas congelem em temperaturas extremas. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A equipe de pesquisa analisou as proteínas anticongelantes utilizando espectrometria de massa, método essencial para entender como essas moléculas funcionam em nível atômico. Embora cumpram funções semelhantes a proteínas identificadas em mariposas e besouros, as moléculas da Clubiona exibem origem evolutiva distinta. Isso significa que surgiram por evolução convergente, mecanismo no qual espécies diferentes desenvolvem soluções similares para enfrentar o mesmo desafio ambiental.

Essa convergência revela o grande valor adaptativo da proteção anticongelante, mostrando como organismos muito diferentes podem, por caminhos separados, chegar a estruturas bioquímicas capazes de resistir ao congelamento.

Impacto direto na agricultura perene

A pesquisa também chama atenção pelo potencial agrícola. Como permanecem ativas nas estações frias, as aranhas Clubiona continuam capturando pragas que ameaçam pomares e outras culturas permanentes.

Isso pode reduzir a dependência de inseticidas e contribuir para mitigar a resistência que surge com seu uso excessivo.Compreender profundamente essas proteínas abre portas para aplicações em biotecnologia, manejo ecológico e no desenvolvimento de estratégias mais sustentáveis para proteger plantações.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.