O aumento das temperaturas globais está provocando uma nova corrida por refrigeração, mas o remédio pode agravar a própria doença. Segundo o relatório Global Cooling Watch 2025, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) durante a COP30, realizada em Belém do Pará, a demanda por ar-condicionado e outros sistemas de resfriamento pode triplicar até 2050.
Essa expansão, movida por ondas de calor extremo, crescimento populacional e aumento da renda mundial, representa uma ameaça direta às metas climáticas globais. Se o cenário se confirmar, as emissões de gases de efeito estufa associadas ao resfriamento podem dobrar em relação a 2022, alcançando 7,2 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente até meados do século. Principais pontos do alerta da ONU:
- A demanda por refrigeração deve crescer mais rápido na África e no Sul da Ásia;
- O acesso ao resfriamento será tratado como infraestrutura essencial, como água e energia;
- Soluções passivas e naturais podem reduzir o impacto ambiental;
- O uso de tecnologias híbridas pode gerar economia de trilhões de dólares em energia;
- A aplicação dessas medidas pode diminuir até 64% das emissões projetadas até 2050.
O desafio da próxima década é alcançar a refrigeração sustentável
A ONU destaca que o planeta precisa adotar soluções de refrigeração sustentáveis com urgência. Isso inclui o uso de estratégias passivas, como arquitetura bioclimática, ventilação natural e materiais que refletem o calor, combinadas a tecnologias de baixo consumo energético.

Essas soluções híbridas reduzem drasticamente o uso de energia e diminuem a dependência de aparelhos convencionais de ar-condicionado, que são responsáveis por uma parcela crescente do consumo elétrico global. Além disso, o investimento em sombreamento urbano, telhados verdes e arborização pode desempenhar papel fundamental na regulação térmica das cidades.
Se amplamente implementadas, essas medidas poderiam economizar até US$ 17 trilhões em custos energéticos e evitar US$ 26 trilhões em investimentos em expansão de redes elétricas até 2050, além de aliviar a pressão sobre o sistema climático e reduzir doenças relacionadas ao calor extremo.
Refrigeração e saúde pública: um elo urgente
A falta de acesso a ambientes refrigerados já representa uma emergência de saúde pública em muitas regiões tropicais. A exposição prolongada a temperaturas elevadas aumenta os casos de desidratação, exaustão térmica e mortalidade cardiovascular. Dessa forma, o resfriamento sustentável não é apenas uma questão ambiental, mas também uma necessidade vital para proteger milhões de pessoas vulneráveis.
A transição para soluções de refrigeração limpas e acessíveis pode marcar um divisor de águas na luta contra o aquecimento global. O desafio, porém, está em conciliar conforto térmico e sustentabilidade, garantindo que o alívio do calor de hoje não se transforme na crise climática de amanhã.

