Antibiótico 100x mais eficaz pode virar o jogo contra superbactérias

Novo antibiótico promete vencer superbactérias letais. (Foto: Getty Images via Canva)
Novo antibiótico promete vencer superbactérias letais. (Foto: Getty Images via Canva)

Uma descoberta inesperada reacendeu a esperança na luta contra as superbactérias, responsáveis por milhões de mortes a cada ano. Pesquisadores das universidades de Warwick (Inglaterra) e Monash (Austrália) identificaram um antibiótico até 100 vezes mais potente que os medicamentos atualmente usados para combater infecções graves. 

O composto, chamado pré-metilenomicina C lactona, estava literalmente “escondido” em um processo biológico conhecido há décadas, e pode se tornar uma das armas mais promissoras contra a resistência antimicrobiana.

O poder oculto da bactéria Streptomyces coelicolor

O novo antibiótico é produzido pela Streptomyces coelicolor, uma bactéria estudada desde os anos 1950 e famosa por gerar diversos compostos com propriedades medicinais. Curiosamente, os cientistas descobriram que essa espécie sempre teve a capacidade de criar a molécula potente, mas ela permanecia em uma etapa intermediária do processo químico que originava outro antibiótico mais fraco, conhecido como metilenomicina A.

Essa “fase esquecida” revelou-se o verdadeiro tesouro: ao ser isolada e testada, a pré-metilenomicina C lactona demonstrou eficácia impressionante contra bactérias Gram-positivas, incluindo duas das mais perigosas do mundo, Staphylococcus aureus (MRSA) e Enterococcus faecium (VRE), esta última resistente à vancomicina, um dos antibióticos de última linha.

Superpotência contra infecções fatais

Molécula esquecida mostra força 100x maior que o previsto. (Foto: Pexels via Canva)
Molécula esquecida mostra força 100x maior que o previsto. (Foto: Pexels via Canva)

Os testes laboratoriais mostraram que a nova molécula foi mais de 100 vezes mais ativa do que o antibiótico original. Além disso, não apresentou sinais de resistência por parte das bactérias analisadas, um dado extremamente positivo diante do avanço das infecções hospitalares que desafiam os medicamentos convencionais.

Essas infecções são responsáveis por elevadas taxas de mortalidade: cerca de 50% dos casos de MRSA e um terço das infecções por VRE podem levar à morte, segundo estimativas de instituições internacionais de saúde.

Esperança para a era pós-antibióticos

A resistência antimicrobiana é considerada uma das maiores ameaças à saúde global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que mais de 1,1 milhão de pessoas morram todos os anos em decorrência de infecções causadas por superbactérias. Entre os principais agentes estão Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa, microrganismos que se adaptaram aos antibióticos mais poderosos disponíveis.

Diante desse cenário alarmante, a descoberta da pré-metilenomicina C lactona representa uma mudança de paradigma nas pesquisas farmacêuticas. Agora, cientistas planejam revisar compostos anteriormente ignorados, especialmente os intermediários químicos, na busca por novas substâncias com potencial terapêutico.

O próximo passo da pesquisa

Os pesquisadores já conseguiram sintetizar o novo antibiótico em laboratório e pretendem iniciar testes pré-clínicos em breve. Como sua estrutura química é relativamente simples, a expectativa é de que, se os resultados se confirmarem em humanos, sua produção em larga escala seja rápida e acessível.

Em um momento em que doenças simples voltam a ameaçar vidas por falta de antibióticos eficazes, a descoberta de uma substância “esquecida” e extremamente potente oferece uma nova esperança para a medicina moderna, e talvez o início de uma virada no combate às superbactérias.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.