Animais marinhos dormem acordados? A adaptação cerebral surpreendente dos animais do oceano

Animais marinhos descansam metade do cérebro sem parar de nadar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Animais marinhos descansam metade do cérebro sem parar de nadar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Imagine ter que descansar sem jamais parar de se mover. Para diversos animais marinhos, essa é a realidade diária. Diferente de mamíferos terrestres, que entram em sono profundo e ficam totalmente inconscientes, espécies como golfinhos, aves aquáticas e tubarões adotaram uma estratégia cerebral única: alternar períodos de atividade e repouso em hemisférios separados do cérebro.

Essa técnica, chamada sono uni-hemisférico, permite que um lado do cérebro entre em estado de descanso, enquanto o outro continua a monitorar o ambiente, controlando movimentos essenciais e mantendo a atenção a predadores e obstáculos. Estudos apontam benefícios claros dessa adaptação:

  • Respiração contínua: o movimento constante garante fluxo de água nas brânquias;
  • Vigilância ativa: uma parte do cérebro permanece atenta a ameaças;
  • Economia de energia: o hemisfério em repouso reduz gasto metabólico;
  • Navegação estável: o corpo mantém trajetória e flutuação mesmo em descanso.

Como funciona o sono parcial no oceano?

Sono uni-hemisférico: vigilância e descanso em perfeita harmonia (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Sono uni-hemisférico: vigilância e descanso em perfeita harmonia (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O cérebro marinho alterna hemisférios em ciclos regulares. Quando um lado diminui sua atividade, o outro assume o controle das funções motoras básicas e da percepção sensorial. Esse revezamento garante que o animal não fique completamente vulnerável, enquanto permite recuperação celular e reorganização neural do hemisfério que descansa.

Em tubarões, por exemplo, observa-se uma redução do ritmo de nado e resposta a estímulos, mas o corpo nunca fica imóvel. Golfinhos e aves aquáticas seguem padrão semelhante, demonstrando que essa estratégia evoluiu independentemente em diferentes grupos de animais.

Sono parcial mantém animais marinhos ativos e protegidos

No oceano aberto, a imobilidade é arriscada, pois espécies que dependem de fluxo contínuo de água para respirar não podem se desligar totalmente. Além disso, a necessidade de flutuação, alimentação e atenção a predadores torna o repouso parcial uma condição de sobrevivência, levando o cérebro a encontrar um meio-termo entre descanso e vigilância para garantir funcionalidade contínua

O estudo do sono uni-hemisférico amplia a compreensão sobre descanso e atenção, mostrando que o sono não é uniforme entre espécies e que o cérebro pode descansar sem perder completamente a consciência do ambiente, o que já desperta interesse de pesquisadores em neurociência e medicina para investigar distúrbios do sono e otimizar funções cerebrais em humanos.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.