A chegada das amostras coletadas pela missão Chang’e-6 reacendeu a curiosidade sobre o lado oculto da Lua, uma região pouco explorada e essencial para compreender a evolução do satélite. O material recuperado na Bacia Aitken-Polo Sul, obtido em 2024, chamou atenção logo nos primeiros testes: ao contrário dos solos mais soltos já trazidos por outras missões, esse conjunto exibiu um comportamento inesperadamente coeso.
Esse detalhe, à primeira vista sutil, abriu caminho para uma investigação ampla publicada na revista Nature Astronomy, conduzida pelo pesquisador Qi Shengwen e sua equipe. O objetivo foi desvendar por que esse solo flui menos e se mantém mais unido que outros regolitos analisados anteriormente. Principais pontos observados pelos pesquisadores:
- O solo apresenta ângulo de repouso mais alto, indicando menor fluidez;
- As partículas exibem granulação mais fina e formato menos esférico que o habitual;
- A análise descarta influência magnética ou cimentação mineral;
- A coesão decorre da combinação de fricção, forças de van der Waals e forças eletrostáticas;
- O material possui teor elevado de feldspato, mineral que fragmenta facilmente.
Texturas inesperadas que alteram o comportamento do regolito

Ao aprofundar a análise, os cientistas recorreram a tomografia computadorizada de alta resolução. O resultado mostrou que o diâmetro de referência (D60) das partículas do solo da Chang’e-6 chega a 48,4 micrômetros, valor significativamente menor que o observado em amostras provenientes do lado visível. Essa finura, somada à morfologia irregular dos fragmentos, intensifica as forças interparticulares, tornando o material mais coeso mesmo sem a presença de argilas ou minerais cimentantes.
Além disso, o aumento da fragmentação está associado ao maior teor de feldspato nas amostras, que contribui para formar partículas pequenas e angulosas. Somado a isso, a exposição prolongada à erosão espacial, mais intensa no lado oculto, altera a superfície das partículas, amplificando a rugosidade e fortalecendo a interação eletrostática.
O que essa descoberta muda sobre a Lua

Essa é a primeira explicação sistemática do comportamento coesivo do regolito lunar baseada em mecânica granular, um avanço importante para missões futuras.
Compreender como o solo reage ao ser escavado, transportado ou manipulado é crucial para operações robóticas, construção de bases e até planejamento de habitats lunares. Além disso, conhecer a física dos grãos ajuda a reconstruir a história geológica da região, abrindo novas pistas sobre impactos, erosão e processos de superfície.

