Amizades duradouras modulam o cérebro e prolongam a vida, aponta pesquisa

Amizades fortes retardam o envelhecimento celular. (Foto: Getty Images via Canva)
Amizades fortes retardam o envelhecimento celular. (Foto: Getty Images via Canva)

Ter amigos próximos pode ser tão poderoso quanto qualquer hábito saudável para o corpo. Pesquisas recentes revelam que relações duradouras funcionam como um “escudo biológico”, diminuindo riscos de doenças e promovendo longevidade. Quanto mais fortes e consistentes os vínculos, mais lento é o envelhecimento celular, mostrando que a amizade é muito mais que companhia.

Vínculos sociais sólidos influenciam não apenas o humor, mas também processos fisiológicos essenciais, retardando o envelhecimento, reduzindo inflamação e fortalecendo o cérebro. Investir em relações humanas não é luxo, é estratégia para viver melhor e por mais tempo.

Vantagens sociais que protegem o corpo

Um estudo publicado na revista Brain, Behavior and Immunity Health, conduzido por Anthony Ong, da Universidade Cornell, analisou mais de 2.100 adultos. Os resultados mostraram que indivíduos com relações sociais fortes apresentavam:

  • Envelhecimento biológico mais lento
  • Menores níveis de inflamação crônica, incluindo redução da interleucina-6
  • Benefícios sustentados ao longo da vida, independentemente de estresse de curto prazo

O diferencial do estudo é a abordagem multidimensional. Não se trata apenas de ter muitos amigos ou ser casado, mas de considerar a trajetória completa dos laços sociais, desde a infância até a vida adulta.

Isolamento acelera o envelhecimento

O isolamento social provoca efeitos opostos. Estudos apontam que a perda de vínculos significativos aumenta a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, elevando cortisol e citocinas pró-inflamatórias. Isso pode:

  • Aumentar o risco de transtornos psiquiátricos
  • Reduzir a plasticidade neural
  • Acelerar o envelhecimento celular

Relações duradouras, por outro lado, modulam a liberação de neuromoduladores como oxitocina e dopamina, protegendo o corpo de inflamação sistêmica e promovendo bem-estar.

Como a amizade afeta o cérebro e o comportamento

Relações duradouras promovem bem-estar e longevidade. (Foto: Jacob Lund via Canva)
Relações duradouras promovem bem-estar e longevidade. (Foto: Jacob Lund via Canva)

Amizades profundas também se refletem na atividade cerebral e nos comportamentos do dia a dia. Pessoas próximas tendem a processar informações de maneira semelhante, com áreas do cérebro relacionadas à atenção, memória, julgamento social e percepção de recompensas sendo ativadas de forma sincronizada. 

Quanto mais forte o vínculo, maior a semelhança nas escolhas e preferências, mostrando que relações duradouras influenciam decisões cotidianas e reforçam a conexão entre amigos.

Amizade na terceira idade: senso de pertencimento e propósito

Na terceira idade, apoiar amigos próximos traz benefícios diretos ao humor, ao senso de propósito e ao bem-estar emocional. Entre as formas mais comuns de apoio estão:

  • Auxílio em tarefas do dia a dia
  • Compartilhamento de conselhos
  • Oferecer suporte emocional constante

Essas interações promovem engajamento ativo e sentimento de utilidade, reforçando a saúde mental e emocional, especialmente para idosos que vivem sozinhos ou tiveram perdas significativas.

Estratégias para cultivar relações saudáveis

Investir em amizades fortes requer ações consistentes, como:

  • Participar de atividades comunitárias
  • Desenvolver habilidades sociais e comunicação
  • Valorizar a reciprocidade no cuidado com os amigos

Manter relações de qualidade protege não apenas o bem-estar emocional, mas também a saúde fisiológica, mostrando que envelhecer bem depende de conexões humanas sólidas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.