Algas polares salvaram espécies marinhas da extinção durante maior crise da Terra

Fitoplâncton polar ajudou vida marinha a sobreviver extinção antiga (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Fitoplâncton polar ajudou vida marinha a sobreviver extinção antiga (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Quando a Terra enfrentou a extinção Permiano-Triássico, há cerca de 252 milhões de anos, a vida marinha quase desapareceu, com 81% das espécies extintas. Alterações drásticas de temperatura, desoxigenação dos oceanos e rupturas no ciclo de carbono criaram um ambiente extremamente hostil. No entanto, regiões mais frias e polares podem ter funcionado como oásis ecológicos, permitindo que organismos primários continuassem a sustentar cadeias alimentares inteiras.

Pesquisadores investigaram rochas do arquipélago ártico de Svalbard, comparando-as com amostras de áreas tropicais do antigo Oceano Tétis, que incluíam regiões do norte da Itália, sul da China e Turquia. O estudo identificou biomarcadores lipídicos que atuam como registros moleculares da vida marinha antiga, fornecendo pistas sobre a resiliência de certas espécies.

  • C33 – n-alquilcicloexano (C33 – n-ACH) aumentou significativamente em águas frias após a extinção;
  • Fitanil tolueno surgiu exclusivamente em amostras de Svalbard, indicando um fitoplâncton distinto;
  • Biomarcadores de alquilcicloexano mostraram resistência à degradação química;
  • Regiões tropicais apresentaram níveis muito menores desses compostos;
  • Evidências sugerem que fitoplâncton polar prosperou enquanto outras espécies entravam em colapso.

Biomarcadores como testemunhas do passado

O estudo, publicado na AGU Advances, analisou 32 amostras, revelando que fitoplâncton em águas frias manteve-se ativo mesmo quando ecossistemas tropicais foram severamente afetados. O aumento de C33 – n-ACH e a presença de fitanil tolueno após a extinção indicam que algas e outros produtores primários continuaram a gerar biomassa suficiente para sustentar organismos superiores.

Biomarcadores revelam refúgios frios que salvaram espécies marinhas  (Imagem: Hamdi Kandi Studio/ Canva Pro)
Biomarcadores revelam refúgios frios que salvaram espécies marinhas (Imagem: Hamdi Kandi Studio/ Canva Pro)

Essas moléculas funcionam como impressões digitais químicas, permitindo rastrear a composição e a abundância da vida marinha pré-histórica em diferentes regiões e climas.

Fitoplâncton e recuperação ecológica

A estabilidade do fitoplâncton polar sugere que águas frias ofereceram condições ideais de sobrevivência, incluindo oxigênio suficiente e nutrientes essenciais. Enquanto regiões tropicais enfrentavam degradação e perda de biodiversidade, essas algas forneceram uma base estável para a recuperação de ecossistemas marinhos, garantindo que algumas cadeias alimentares permanecessem ativas mesmo em um período de crise global.

Além disso, a presença de diferentes biomarcadores em Svalbard indica que espécies especializadas conseguiram ocupar nichos isolados, destacando a importância da diversidade ecológica e da adaptação para a persistência da vida em períodos extremos.

Compreender como o fitoplâncton polar sobreviveu a uma extinção massiva oferece insights valiosos para os impactos atuais das mudanças climáticas nos oceanos. Estudos como este destacam a relevância de refúgios ambientais e de espécies resilientes para a preservação da biodiversidade em cenários de aquecimento global e degradação marinha.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.