Pesquisadores realizaram uma descoberta extraordinária ao identificar três conjuntos de cargas milenares pertencentes a naufrágios da Idade do Ferro no porto de Dor, localizado na Costa do Carmelo, no Mediterrâneo Oriental. O achado, resultado de uma colaboração internacional, lança nova luz sobre as rotas comerciais e os contatos culturais que moldaram a economia antiga da região.
O estudo, publicado na revista Antiquity, utilizou tecnologias avançadas de arqueologia subaquática, como modelagem 3D, fotogrametria e mapeamento digital, para analisar artefatos que permaneceram submersos por mais de dois milênios. Mesmo com apenas uma fração da área escavada, os dados já revelam que Dor foi um centro marítimo estratégico, essencial nas trocas entre civilizações antigas.
Três naufrágios, três capítulos da história

As cargas foram nomeadas como Dor M, Dor L1 e Dor L2, cada uma representando um período diferente da Idade do Ferro, e, juntas, formam um retrato fascinante da evolução do comércio no Mediterrâneo.
- Dor M (século XI a.C.): o mais antigo dos naufrágios, contém jarros e uma âncora com inscrições em escrita cipriota-minoica. As evidências sugerem intensas trocas entre Egito, Chipre e a costa fenícia, confirmando relatos de antigas rotas marítimas.
- Dor L1 (século IX–VIII a.C.): apresenta cerâmicas fenícias e indica que, mesmo em períodos de retração comercial, a navegação regional manteve-se ativa, sustentando o intercâmbio entre povos vizinhos.
- Dor L2 (século VII–VI a.C.): o mais bem preservado, contém ânforas e blocos de ferro bruto, sinalizando uma fase de prosperidade e comércio de metais em larga escala sob o domínio dos impérios assírio e babilônico.
Tecnologia a serviço da arqueologia subaquática

O uso de equipamentos de fotogrametria com múltiplas câmeras e outras ferramentas de modelagem digital permitiu registrar os objetos em alta precisão sem removê-los do local. Essa abordagem garante a preservação dos materiais e do contexto histórico, permitindo análises mais detalhadas sobre o tipo de carga, origem e destino dos navios.
Combinando inovação tecnológica e escavação tradicional, os pesquisadores estão reconstruindo uma rede comercial complexa que conectava diversas culturas e impérios através do mar.
Elo entre impérios antigos
A cidade portuária de Dor ocupava uma posição estratégica no Mediterrâneo Oriental, ligando Egito, Fenícia e Mesopotâmia. Protegida por ilhotas naturais e dotada de estruturas como cais e molhes, a antiga lagoa servia de abrigo seguro para embarcações comerciais.
As descobertas sugerem que Dor funcionava como um nó central nas rotas marítimas, por onde passavam produtos como metais, cerâmicas, vinhos e grãos. Essa atividade intensa ajudou a impulsionar tanto o desenvolvimento econômico quanto a troca cultural entre civilizações que moldaram o mundo antigo.
Os arqueólogos acreditam que apenas uma parte do sítio foi explorada, cerca de 25% da área conhecida. Novas fases de escavação podem revelar ainda mais artefatos e estruturas, ampliando o entendimento sobre as dinâmicas comerciais e políticas da Idade do Ferro.
Com cada mergulho, surge um fragmento de uma história esquecida, mostrando que o mar ainda guarda respostas valiosas sobre as origens do comércio global.


 
							 
							 
							