A gordura mais perigosa para o cérebro não é a que você vê no espelho

Inflamação causada por gordura visceral acelera o envelhecimento. (Foto: Getty Images via Canva)
Inflamação causada por gordura visceral acelera o envelhecimento. (Foto: Getty Images via Canva)

Quando pensamos em gordura corporal, normalmente imaginamos aquilo que aparece no espelho. Porém, cientistas descobriram que o verdadeiro perigo para o cérebro não é visível. A gordura visceral, também chamada de “gordura oculta”, pode acelerar o envelhecimento cerebral e afetar funções importantes mesmo em pessoas que parecem magras.

O que torna a gordura visceral tão perigosa?

Esse tipo de gordura se acumula profundamente dentro do abdômen, escondida entre os órgãos vitais como fígado, pâncreas e intestinos. Por estar tão próxima dessas estruturas, ela interfere diretamente no metabolismo, nos hormônios e no funcionamento do corpo de forma muito mais agressiva do que a gordura que fica sob a pele.

Diferente da gordura subcutânea, aquela que percebemos ao apertar a barriga, a gordura visceral age como um “órgão inflamatório ativo”. Ela produz e libera constantemente substâncias inflamatórias chamadas citocinas, que entram na corrente sanguínea e se espalham pelo organismo. Esse fluxo contínuo de inflamação silenciosa atravessa a barreira hematoencefálica, alcançando o cérebro.

Quando essas moléculas chegam ao sistema nervoso central, elas provocam inflamação crônica nos neurônios, prejudicam a comunicação entre as células e aceleram o desgaste das estruturas cerebrais. Com o tempo, pesquisadores observaram que essa inflamação está associada à perda de volume em regiões essenciais, como o hipocampo, responsável pela memória, e o córtex pré-frontal, que controla decisões, foco e emoções.

Na prática, isso significa que a gordura visceral pode deixar o cérebro anos mais velho do que o esperado, afetando memória, velocidade de raciocínio e até estabilidade emocional.

Mesmo quem não tem barriga aparente corre risco

Gordura visceral afeta memória, foco e tomada de decisão. (Foto: Getty Images via Canva)
Gordura visceral afeta memória, foco e tomada de decisão. (Foto: Getty Images via Canva)

A parte mais preocupante da descoberta é que pessoas que parecem “saudáveis” visualmente, mesmo as que têm barriga chapada, podem estar acumulando gordura escondida sem perceber. Esse acúmulo interno, conhecido como gordura visceral, não aparece no espelho e nem sempre altera o peso ou o IMC.

Por ser invisível, ela cria uma falsa sensação de segurança: o corpo parece estar em boa forma, mas internamente a gordura se instala entre os órgãos e começa a provocar danos silenciosos. É esse caráter oculto que torna a gordura visceral tão traiçoeira e capaz de afetar o cérebro sem dar sinais externos.

Efeitos no cérebro que vão além da memória

Estudos mostram que a gordura visceral altera diretamente o funcionamento de regiões cerebrais responsáveis pela tomada de decisão, pelo controle emocional e pela velocidade de raciocínio. Por liberar substâncias inflamatórias potentes, ela interfere na comunicação entre neurônios e reduz a eficiência das conexões cerebrais, prejudicando memória, foco e capacidade de resolver problemas. 

Além disso, esse tipo de gordura influencia o equilíbrio hormonal, afetando sistemas que regulam humor, apetite, estresse e sono.

Com o tempo, essa inflamação constante acelera o desgaste de estruturas essenciais, fazendo com que o cérebro aparente ser anos mais velho do que realmente é. As imagens de ressonância magnética usadas nas pesquisas indicam que o acúmulo de gordura visceral pode antecipar sinais típicos do envelhecimento cerebral, como redução de volume em áreas críticas e pior desempenho cognitivo. Ou seja, mesmo sem sintomas evidentes, o cérebro pode estar envelhecendo mais rápido por causa dessa gordura silenciosa.

Como reduzir essa gordura silenciosa

A boa notícia é que ela responde bem a mudanças simples:

  • caminhadas rápidas;
  • redução do consumo de açúcar;
  • melhora na qualidade do sono;
  • diminuição do tempo sentado.

Esses hábitos podem reduzir significativamente a inflamação no corpo e proteger o cérebro.A descoberta faz um alerta importante: o perigo que mais ameaça o cérebro não é o que aparece por fora, e sim o que se acumula onde ninguém vê. Pesquisadores agora buscam entender se a gordura visceral pode até prever o risco de declínio cognitivo precoce.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.