Ganho de força pode falhar por causa dessa gordura, revela estudo

Gordura intramuscular bloqueia a recuperação do músculo. (Foto: Pexels via Canva)
Gordura intramuscular bloqueia a recuperação do músculo. (Foto: Pexels via Canva)

Nem toda gordura corporal é visível. Enquanto a maioria das pessoas associa o acúmulo de gordura apenas ao tecido subcutâneo, uma forma menos conhecida vem chamando a atenção da ciência por seus efeitos diretos sobre a força muscular e a recuperação após lesões

Evidências recentes indicam que a presença de gordura infiltrada dentro do músculo pode comprometer profundamente sua capacidade de regeneração, funcionando como um verdadeiro obstáculo físico ao crescimento muscular saudável.

A gordura que ocupa o espaço do músculo

O tecido adiposo intramuscular, conhecido pela sigla IMAT, é caracterizado pelo acúmulo de células de gordura entre as fibras musculares. Essa condição já vinha sendo associada a doenças como diabetes tipo 2, obesidade, doenças neuromusculares e ao envelhecimento muscular. No entanto, até recentemente, não estava claro se essa gordura era apenas um marcador de pior saúde ou se exercia um papel ativo no enfraquecimento muscular.

Um estudo publicado na revista científica Cell Reports, intitulado “Intramuscular adipose tissue restricts functional muscle recovery”, liderado por Alessandra M. Norris e colaboradores, trouxe evidências diretas de que o IMAT não é apenas um coadjuvante, mas um agente ativo na perda de função muscular.

Como a gordura bloqueia a regeneração muscular

Gordura interna bloqueia a cicatrização muscular. (Foto: Zorotoo via Canva)
Gordura interna bloqueia a cicatrização muscular. (Foto: Zorotoo via Canva)

A pesquisa demonstrou que a gordura infiltrada atua como uma barreira física, impedindo que novas fibras musculares se formem corretamente após uma lesão. Em condições normais, o músculo lesionado passa por um processo organizado de regeneração. No entanto, quando o espaço entre as fibras é ocupado por células adiposas, esse processo se torna desorganizado e ineficiente.

Os resultados mostraram que músculos com presença elevada de IMAT desenvolvem:

  • Fibras musculares menores
  • Arquitetura muscular desordenada
  • Redução significativa da força
  • Recuperação funcional incompleta

Esse bloqueio estrutural limita o crescimento adequado das fibras, comprometendo diretamente o desempenho muscular.

Impactos na força e no envelhecimento

Além das lesões, o estudo aponta implicações importantes para a perda de massa muscular associada à idade, conhecida como sarcopenia. Com o avanço da idade, o acúmulo de gordura dentro do músculo tende a aumentar, criando um ambiente menos favorável à regeneração e manutenção da força.

Isso ajuda a explicar por que, em muitos casos, o ganho de força se torna mais difícil mesmo com estímulo físico adequado.

Reduzir a gordura intramuscular é possível

Um dos achados mais relevantes é que o IMAT não é irreversível. A redução dessa gordura segue o mesmo princípio da perda de gordura corporal geral: desequilíbrio energético, no qual o gasto supera a ingestão calórica.

Ao diminuir o tamanho das células adiposas dentro do músculo, abre-se espaço para que as fibras musculares:

  • Se regenerem de forma mais eficiente
  • Cresçam adequadamente
  • Recuperem a capacidade de produzir força

Esse entendimento amplia as estratégias terapêuticas, que passam a focar não apenas no estímulo muscular, mas também na remoção do bloqueio físico causado pela gordura.

Implicações clínicas e futuras terapias

Os achados publicados na Cell Reports reforçam uma mudança de paradigma na abordagem de lesões musculares, doenças musculares crônicas e do envelhecimento saudável. Intervenções que reduzam a gordura intramuscular podem ser decisivas para restaurar função, mobilidade e qualidade de vida em milhões de pessoas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.