Descubra como correr faz seu cérebro enganar você sobre o tempo

Correr pode fazer o cérebro superestimar o tempo. (Foto: Getty Images via Canva)
Correr pode fazer o cérebro superestimar o tempo. (Foto: Getty Images via Canva)

Você já sentiu que o tempo passa mais devagar enquanto corre? Pesquisas recentes mostram que isso não é só impressão. Um estudo publicado na revista Scientific Reports, conduzido por Tommaso Bartolini et al., descobriu que correr pode fazer o cérebro superestimar a duração dos eventos, ou seja, perceber o tempo como mais longo do que ele realmente é.

Por que o tempo parece diferente ao correr?

O cérebro interpreta a passagem do tempo de modo próprio, não como um relógio. Atividades simples do dia a dia, como esperar na fila ou fazer tarefas repetitivas, podem parecer mais longas. E a corrida influencia ainda mais essa sensação. Mas o estudo mostra que não é o esforço físico que muda a percepção do tempo, e sim a atenção que o cérebro precisa ter para controlar os movimentos.

Para entender isso, os pesquisadores testaram diferentes situações:

  • Corrida na esteira a quase máxima frequência cardíaca
  • Caminhada para trás na esteira, que exige atenção, mas é menos cansativa
  • Ficar parado enquanto realiza uma tarefa de memória visual
  • Linha de base, em pé e sem distrações

Em todas as atividades que precisavam de atenção extra, os participantes subestimaram ou superestimaram a duração dos estímulos visuais. A diferença no esforço físico não fez o efeito mudar.

Como foi o estudo

Esforço mental, não físico, muda a sensação do tempo. (Foto: Aflo via Canva)
Esforço mental, não físico, muda a sensação do tempo. (Foto: Aflo via Canva)

O estudo envolveu 22 pessoas com idade média de 26 anos. Cada participante teve que memorizar um quadrado azul que aparecia por dois segundos e depois dizer se outros quadrados duravam o mesmo tempo. Durante a corrida e a caminhada para trás, a frequência cardíaca foi monitorada, permitindo separar o efeito do esforço físico do esforço mental.

O resultado foi claro: quanto mais atenção a atividade exigia, maior a superestimação do tempo, mesmo que o coração estivesse batendo mais rápido em algumas situações.

O que isso significa para o dia a dia?

Mesmo que a percepção do tempo fique distorcida, os participantes foram consistentes em seus julgamentos. Ou seja, o cérebro percebeu errado, mas percebeu de forma confiável. Isso mostra que o esforço mental necessário para controlar movimentos ou dividir a atenção é o principal responsável por essa sensação de tempo mais longo.

O estudo ajuda a entender melhor como corpo e mente trabalham juntos e pode ser útil para esportes, reabilitação e atividades que envolvem coordenação motora complexa.

Correr não é apenas um exercício físico: é também um desafio para o cérebro. O estudo publicado em Scientific Reports revela que a mente humana pode distorcer o tempo durante a corrida, e que essa distorção depende mais da atenção do que do esforço físico. Entender essa relação pode ajudar atletas, treinadores e qualquer pessoa interessada em como o corpo e a mente interagem no dia a dia.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.