As festas de fim de ano costumam ser sinônimo de celebração, mesas fartas e encontros familiares. No entanto, por trás do preparo acelerado de pratos tradicionais, existe um risco sanitário pouco percebido, capaz de desencadear desde intoxicações alimentares até infecções urinárias. O problema não está nos alimentos em si, mas nos hábitos adotados durante o preparo.
A combinação entre carne crua, higiene inadequada e temperatura incorreta de armazenamento cria um ambiente ideal para a proliferação de bactérias. Em períodos de maior volume de preparo, pequenos descuidos se somam e ampliam as chances de contaminação cruzada, especialmente envolvendo aves.
Logo nos primeiros momentos da preparação, erros frequentes favorecem a disseminação de microrganismos:
- Uso da mesma tábua ou faca para carnes cruas e vegetais;
- Respingo de água contaminada pela lavagem de aves na pia;
- Alimentos prontos expostos por muito tempo fora da refrigeração;
- Limpeza insuficiente de bancadas e utensílios.
Essas práticas permitem que bactérias resistentes se espalhem pela cozinha e alcancem alimentos já prontos para consumo.
Infecções que vão além do sistema digestivo

Embora diarreia, náuseas e vômitos sejam os sinais mais conhecidos, a contaminação alimentar pode gerar consequências mais complexas. Estudos publicados na revista mBio mostram que parte das infecções urinárias tem origem em bactérias presentes em alimentos mal higienizados, com destaque para a Escherichia coli.
Essa bactéria é responsável pela maioria das infecções urinárias e pode migrar do trato intestinal para o sistema urinário, especialmente em mulheres. O risco aumenta em contextos de manipulação frequente de carnes contaminadas, como aves inteiras, que concentram altas cargas bacterianas.
Além disso, fatores anatômicos e culturais contribuem para essa vulnerabilidade, tornando a prevenção na cozinha uma medida essencial de saúde pública.
Como reduzir riscos e proteger a saúde?
A boa notícia é que medidas simples são altamente eficazes para reduzir riscos à saúde. O cozimento acima de 75 °C elimina bactérias perigosas, enquanto a organização correta do preparo diminui de forma significativa a contaminação cruzada. Entre as boas práticas essenciais estão o uso de utensílios exclusivos para carnes cruas, a higienização adequada das bancadas com desinfetantes, e não apenas detergente, além de manter pratos frios sempre refrigerados.
Também é fundamental higienizar vegetais em solução sanitizante e esterilizar utensílios com água fervente após o uso. A atenção deve ser ainda maior quando o alimento é manipulado inteiro ou abatido em casa, pois a retirada das vísceras pode espalhar microrganismos pela superfície. Cuidar da higiene na cozinha não é excesso de zelo, mas uma medida eficaz para evitar doenças, internações e complicações graves em um período que deveria ser marcado apenas por celebração.

