À primeira vista, o fóssil é discreto e cabe facilmente na palma da mão. Ainda assim, ele carrega informações capazes de redefinir a origem dos lagartos. Datado de 242 milhões de anos, esse pequeno predador viveu no Triássico Médio e oferece uma das visões mais antigas já registradas sobre os ancestrais dos lepidossauros, grupo que inclui lagartos, serpentes e a tuatara.
O estudo foi publicado na revista científica Nature, sob o título “The oldest known lepidosaur and the origins of lepidosaur feeding adaptations” e assinado por Daniel Marke et al.
O que os cientistas esperavam dos primeiros lagartos
Antes dessa descoberta, a ciência trabalhava com a ideia de que os primeiros lagartos já apresentavam características semelhantes às espécies modernas. Entre elas estavam um crânio flexível, presença de dentes no céu da boca e estruturas que facilitariam capturar presas vivas e escorregadias.
Essas adaptações são comuns em muitos lagartos e serpentes atuais e, por isso, eram consideradas traços ancestrais do grupo.
Uma anatomia que surpreendeu os pesquisadores

Ao analisar o novo fóssil, porém, os pesquisadores encontraram algo bem diferente do esperado. A espécie, chamada Agriodontosaurus helsbypetrae, não apresenta várias das características consideradas típicas dos primeiros lagartos.
Em vez disso, o animal combina traços primitivos com estruturas raras, sugerindo que a evolução inicial dos lagartos foi muito mais diversa e experimental do que se imaginava.
Dentes grandes revelam hábitos alimentares antigos
Um dos aspectos mais chamativos do fóssil é a presença de dentes grandes, afiados e em formato triangular, desproporcionais ao tamanho do crânio. Essa configuração indica uma alimentação especializada, provavelmente baseada em insetos com exoesqueletos rígidos.
Esse tipo de dieta sugere que, desde cedo, os ancestrais dos lagartos já exploravam nichos ecológicos específicos, o que pode ter sido fundamental para sua sobrevivência e diversificação.
Tecnologia de ponta para enxergar o invisível
Como o crânio mede cerca de 1,5 centímetro, técnicas tradicionais não seriam suficientes para revelar seus detalhes. Por isso, os cientistas utilizaram tomografias com radiação síncrotron, capazes de gerar imagens extremamente precisas sem danificar o fóssil.
Essa abordagem permitiu reconstruir digitalmente a anatomia do animal, revelando estruturas microscópicas que jamais seriam vistas a olho nu.
Um retrato mais realista da evolução dos lepidossauros
O fóssil pertence a um período anterior ao surgimento dos dinossauros e ajuda a preencher uma lacuna crucial na história evolutiva dos répteis. Ele mostra que os primeiros lepidossauros não seguiam um único modelo anatômico, mas testavam diferentes estratégias de alimentação e sobrevivência.
Essa flexibilidade pode explicar por que, milhões de anos depois, o grupo se tornou o mais diverso entre os vertebrados terrestres, com mais de 12 mil espécies vivas.
Por que essa descoberta é tão importante?
Mais do que revelar uma nova espécie, o fóssil mostra que a evolução dos lagartos foi marcada por adaptações inesperadas, caminhos alternativos e soluções eficientes para viver em ambientes desafiadores.
Assim, um animal minúsculo do passado ajuda a explicar como os lagartos conquistaram o planeta e se tornaram um dos grupos mais bem-sucedidos da história da vida.

