Cientistas identificam bactérias intestinais que turbinam músculos e reduzem inflamação 

Bactérias intestinais podem aumentar força muscular. (Foto: Anytka via Canva)
Bactérias intestinais podem aumentar força muscular. (Foto: Anytka via Canva)

A atuação do intestino no organismo não se limita à digestão dos alimentos. Pesquisadores demonstraram que microrganismos específicos podem impulsionar a força muscular, melhorar a massa muscular e reduzir a inflamação. 

O estudo, conduzido por Ji-Seon Ahn e publicado na revista Scientific Reports em 2025 com o título “Descoberta de microrganismos intestinais que influenciam a melhora da força muscular”, revela um caminho promissor para terapias à base de probióticos que impactam diretamente o desempenho físico e o envelhecimento saudável.

A pesquisa mostra que a diversidade microbiana do trato gastrointestinal é muito maior que a encontrada nas fezes, indicando que análises completas do intestino são essenciais para identificar os microrganismos que realmente influenciam os músculos. 

Além disso, o estudo reforça a conexão entre atividade física, metabolismo e microbiota, evidenciando que o intestino desempenha um papel crucial na resposta do corpo ao exercício.

Como o estudo foi conduzido

O estudo utilizou camundongos idosos que tiveram sua microbiota intestinal reduzida por antibióticos e antifúngicos. Em seguida, foi realizado um transplante de microbiota fecal (TMF) com amostras de camundongos adultos saudáveis, garantindo consistência genética e metabólica.

Os efeitos foram avaliados por meio de:

  • Teste Rotarod, medindo força, coordenação e equilíbrio
  • Teste de suspensão por fio, avaliando força dos membros anteriores

Além disso, os pesquisadores coletaram amostras de sangue e intestino para medir glicose, colesterol, triglicerídeos e analisaram a composição bacteriana via sequenciamento do gene 16S rRNA.

Resultados surpreendentes

Microbiota influencia músculos e reduz inflamação. (Foto: Pexels via Canva)
Microbiota influencia músculos e reduz inflamação. (Foto: Pexels via Canva)

Após três meses, os camundongos que receberam o TMF apresentaram:

  • Aumento significativo da força muscular, classificado em grupos fortalecidos, intermediários e enfraquecidos
  • Ganho de massa muscular de até 157%, mesmo com redução do peso corporal
  • Melhora nos marcadores metabólicos, incluindo aumento do HDL e redução de LDL, triglicerídeos e colesterol total

Três espécies bacterianas se destacaram por fortalecer consistentemente os músculos: Lactobacillus johnsonii, Limosilactobacillus reuteri e Turicibacter sanguinis. A combinação de L. johnsonii + L. reuteri mostrou efeitos sinérgicos, promovendo o maior aumento de massa muscular, área de fibras musculares e redução de inflamação.

Além disso, o estudo observou elevação de proteínas anabólicas importantes:

  • IGF-1, fator de crescimento anabólico essencial para síntese muscular
  • Folistatina, inibidora da miostatina, promovendo hipertrofia

O grupo tratado com a combinação de probióticos apresentou níveis significativamente menores de marcadores inflamatórios, evidenciando o efeito anti-inflamatório do tratamento.

Impactos e perspectivas futuras

Embora os resultados tenham sido obtidos em modelos pré-clínicos, eles indicam potencial significativo para terapias humanas, especialmente para prevenir perda de massa muscular relacionada à idade. Estudos futuros devem explorar:

  • Metabólitos microbianos que modulam o crescimento muscular
  • Aplicações em populações humanas, incluindo idosos e atletas
  • Estratégias combinadas de dieta, exercício e probióticos

O estudo destaca que o intestino não é apenas digestivo, mas um aliado poderoso na força muscular, saúde metabólica e redução da inflamação, abrindo novas fronteiras para pesquisas e terapias inovadoras.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.