O tratamento de águas residuais é fundamental para preservar a saúde pública e proteger o meio ambiente, mas uma dimensão pouco conhecida está chamando atenção: bactérias simbióticas que vivem dentro de outros microrganismos. Pesquisas recentes do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha, publicadas na revista ISME Communications, revelam que essas associações microscópicas desempenham papéis surpreendentes na purificação da água e podem afetar a emissão de gases de efeito estufa.
Esses endossimbiontes não apenas ajudam na degradação de poluentes, mas também fornecem energia aos seus hospedeiros unicelulares, de maneira similar às mitocôndrias humanas. Esse fenômeno indica que há uma rede complexa de parcerias microbianas em estações de esgoto pelo mundo.
O papel invisível no tratamento de esgoto

Ao estudar estações em diferentes países, os cientistas identificaram 14 novas espécies de simbiontes que:
- Participam da desnitrificação, removendo nitratos prejudiciais da água;
- Convertem nitratos em gás nitrogênio, inofensivo para o ambiente;
- Ajudam os ciliados (seus hospedeiros unicelulares) a gerar energia;
- Estão presentes em até 50% das estações de esgoto, embora sua abundância varie com o tempo.
Essas descobertas destacam que o ecossistema microbiano do tratamento de águas residuais é mais complexo e colaborativo do que se imaginava.
O alerta climático escondido
Apesar dos benefícios, nem todos os simbiontes são neutros para o clima. Uma espécie recém-identificada, Candidatus Azoamicus parvus, libera óxido nitroso (N₂O), um gás de efeito estufa 300 vezes mais potente que o CO₂, em vez de convertê-lo em nitrogênio seguro. Essa bactéria está amplamente distribuída e representa uma possível fonte de emissões antropogênicas de N₂O em estações de tratamento.
Essas descobertas mostram que as parcerias microbianas são essenciais, embora ainda pouco estudadas, e indicam caminhos promissores para aprimorar os processos de purificação, aumentando a eficiência da desnitrificação, reduzir os impactos ambientais por meio do monitoramento de simbiontes emissores de N₂O e compreender melhor os ecossistemas microbianos complexos, o que pode abrir novas estratégias em biotecnologia e sustentabilidade. O estudo evidencia que observar mais de perto esses microrganismos escondidos pode ser a chave para tornar o tratamento de águas residuais mais seguro e ambientalmente responsável.

