A atmosfera solar sempre escondeu uma barreira enigmática: a região em que o vento solar finalmente se desprende do controle magnético do Sol. Agora, pela primeira vez, cientistas produziram um mapa bidimensional contínuo dessa fronteira dinâmica, oferecendo um novo olhar sobre o comportamento da nossa estrela. O trabalho, publicado no The Astrophysical Journal Letters e envolvendo autores como Sam Badman, inaugura uma fase crucial para compreender como fenômenos solares influenciam a Terra.
Essa camada, conhecida como superfície de Alfvén, funciona como um ponto de não retorno para partículas energéticas. Sua localização, estrutura e variações estavam entre as maiores incógnitas da heliofísica moderna. Entre os pontos centrais da descoberta estão:
- Mapeamento contínuo e inédito da superfície de Alfvén em duas dimensões;
- Variações claras na forma e na altura da fronteira conforme o Sol se torna mais ativo;
- Validação direta dos limites usando mergulhos profundos da Parker Solar Probe;
- Possibilidade de aprimorar previsões de clima espacial e modelos de vento solar.
A camada onde o vento solar finalmente se liberta
A superfície de Alfvén marca o local onde a velocidade do vento solar supera a das ondas magnéticas. A partir dali, o plasma não consegue mais retornar à estrela e passa a viajar pelo espaço interplanetário. Mapear essa região é essencial, pois ela revela como o Sol injeta energia no ambiente espacial e, consequentemente, como isso afeta satélites, comunicações, redes elétricas e a própria atmosfera terrestre.

A equipe combinou dados de observações remotas com medições precisas obtidas pelo instrumento SWEAP a bordo da Parker Solar Probe. As trajetórias profundas da sonda permitiram validar diretamente os mapas, confirmando que a fronteira solar se torna mais extensa, pontiaguda e irregular durante o máximo de atividade do ciclo solar.
Um novo caminho para prever a influência do Sol
Além de delimitar a fronteira externa do Sol, o estudo abre oportunidade para investigar processos internos que aquecem a coroa solar e impulsionam os ventos supersônicos. A nova cartografia permitirá atualizar modelos de clima espacial, fundamentais para antecipar tempestades solares e proteger tecnologias sensíveis.
A abordagem também tem implicações para a astrofísica estelar: compreender a superfície de Alfvén em nosso Sol ajuda a projetar como estrelas semelhantes moldam o ambiente em seus sistemas, influenciando a habitabilidade de exoplanetas.
Com missões futuras, a equipe pretende repetir o mapeamento durante o próximo mínimo solar, observando como essa fronteira se contrai e muda ao longo de um ciclo completo.

