Novo mapa cerebral revela por que lembranças desaparecem no Alzheimer

Camadas do hipocampo revelam por que memórias se perdem. (Foto: Oksana Vector Art via Canva)
Camadas do hipocampo revelam por que memórias se perdem. (Foto: Oksana Vector Art via Canva)

Um estudo publicado na revista científica Nature Communications, intitulado Organização laminar de tipos celulares de neurônios piramidais define sub-regiões distintas do hipocampo CA1, apresentou um mapeamento inédito do hipocampo. A pesquisa foi liderada pela neurocientista Maricarmen Pachicano, que utilizou abordagens celulares e moleculares de alta precisão para revelar estruturas internas antes invisíveis aos métodos tradicionais.

As descobertas mostram que o hipocampo, conhecido como o centro da memória, é muito mais complexo do que se imaginava, especialmente em suas camadas profundas.

Camadas ocultas que sustentam a memória

A equipe de Pachicano identificou quatro sub-regiões distintas dentro da área CA1, cada uma composta por diferentes tipos de neurônios piramidais. Essas camadas apresentam características moleculares específicas e rotas de comunicação próprias, sugerindo que desempenham papéis complementares no processamento da memória.

Essa organização explica por que certas lembranças desaparecem primeiro na doença de Alzheimer: algumas dessas camadas são muito mais vulneráveis à degeneração precoce.

Zonas de vulnerabilidade que definem o declínio

Nova arquitetura do hipocampo explica falhas de memória. (Foto: Pixabay via Canva)
Nova arquitetura do hipocampo explica falhas de memória. (Foto: Pixabay via Canva)

Segundo o estudo, as camadas internas da área CA1, responsáveis por consolidar memórias recentes, mostram maior sensibilidade a alterações neurodegenerativas. Quando essas regiões começam a falhar, ocorrem prejuízos típicos do Alzheimer, como:

  • dificuldade em formar novas lembranças;
  • falhas recorrentes na memória curta;
  • desorientação espacial;
  • perda de contexto temporal.

A arquitetura laminar recém-mapeada indica que o Alzheimer não se espalha de maneira aleatória, mas segue um percurso previsível, afetando primeiro os circuitos mais delicados e fundamentais para a memória recente.

Novo caminho para diagnósticos e terapias

O mapa produzido por Maricarmen Pachicano e colaboradores abre portas para métodos de diagnóstico mais precoces e precisos. Ao identificar padrões celulares de vulnerabilidade, torna-se possível:

  • desenvolver biomarcadores moleculares específicos;
  • identificar sinais iniciais de degeneração neuronal;
  • orientar terapias que atuem diretamente nas camadas mais frágeis;
  • compreender melhor a transição entre envelhecimento normal e Alzheimer.

O estudo representa um marco para a neurociência, ao revelar como a organização interna do hipocampo determina o destino das memórias ao longo da vida e durante o avanço das doenças neurodegenerativas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.