Pterossauro jamais visto aparece em “vômito” fossilizado do Brasil

Concreção mostra restos de Bakiribu waridza e quatro peixes. (Foto: RV Pêgas et al via Scientific Reports)
Concreção mostra restos de Bakiribu waridza e quatro peixes. (Foto: RV Pêgas et al via Scientific Reports)

Um achado inesperado na Bacia do Araripe, no nordeste brasileiro, trouxe à tona uma nova espécie de pterossauro filtrador. O mais impressionante é que o fóssil, armazenado há anos em um museu, estava em um regurgitalito, ou “vômito fossilizado” de dinossauro. 

Publicado na revista Scientific Reports no estudo Um regurgitalito revela um novo pterossauro filtrador do Grupo Santana, de RV Pêgas et al. (2025), o achado não só acrescenta informações sobre a evolução dos pterossauros, como também revela detalhes sobre as cadeias alimentares do Cretáceo Inferior.

Um fóssil que guardava segredos

Holótipo MCC 1271.1-V preserva fósseis de pterossauro raro. (Foto: RV Pêgas et al via Scientific Reports)
Holótipo MCC 1271.1-V preserva fósseis de pterossauro raro. (Foto: RV Pêgas et al via Scientific Reports)

O regurgitalito contém restos parciais da nova espécie, denominada Bakiribu waridza, acompanhados de fragmentos de peixes. A disposição dos ossos indica que o predador digeria tecidos moles, regurgitando partes duras como ossos e dentes.

  • Restos incluem fragmentos ósseos de pterossauros e quatro peixes
  • Ossos fraturados sugerem ingestão por predadores maiores
  • O achado ajuda a compreender interações predador-presa

Mesmo negligenciado por décadas, o fósil agora fornece insights únicos sobre ecossistemas antigos e comportamento alimentar.

Posição evolutiva de Bakiribu waridza

Reconstrução de Bakiribu waridza com espinossaurídeo predador. (Foto: Julio Lacerda via Scientific Reports)
Reconstrução de Bakiribu waridza com espinossaurídeo predador. (Foto: Julio Lacerda via Scientific Reports)

Estudos filogenéticos e paleohistológicos confirmaram que Bakiribu waridza pertence à família Ctenochasmatidae, famosa por pterossauros filtradores com focinhos alongados e dentes finos.

  • Parente próximo de Pterodaustro, com dentes e mandíbula intermediários
  • Preenche lacuna evolutiva na subfamília Ctenochasmatinae
  • Contribui para o entendimento da diversidade de pterossauros filtradores

A análise mostra que a espécie representa uma etapa intermediária entre formas conhecidas, ajudando a mapear a evolução adaptativa desses animais.

Revelando antigas cadeias alimentares

O regurgitalito também lança luz sobre a alimentação de dinossauros predadores. Pterossauros filtradores, como Bakiribu, eram parte da dieta de dinossauros maiores, possivelmente espinossaurídeos ou ornitocheiriformes.

  • Evidências de predação ajudam a reconstruir ecossistemas do Cretáceo
  • Indicam relações predador-presa entre espécies de diferentes tamanhos
  • Demonstram como fósseis esquecidos podem revelar interações biológicas antigas

Esse achado reforça a importância de coleções de museus e fósseis previamente estudados de forma limitada, mostrando que tesouros científicos podem estar guardados por anos.

Importância do achado para a Paleontologia

A descoberta de Bakiribu waridza amplia o conhecimento sobre:

  • Diversidade e evolução dos pterossauros filtradores
  • Dinâmicas de predadores e presas no Cretáceo Inferior
  • Importância de fósseis pouco estudados para paleontologia

Publicado na Scientific Reports por RV Pêgas et al. (2025), este estudo demonstra que fósseis antigos, mesmo negligenciados, podem revelar informações evolutivas e ecológicas cruciais, contribuindo para a compreensão da vida pré-histórica no nordeste brasileiro.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.