Os exames de sangue para a doença de Alzheimer são ferramentas cada vez mais usadas para identificar riscos precoces da demência. No entanto, pesquisas recentes indicam que a saúde renal pode interferir na interpretação desses testes, potencialmente levando a resultados enganosos em pessoas com função renal reduzida.
A ligação entre rins e biomarcadores de Alzheimer
Um estudo publicado na revista Neurology em 2026, intitulado “Função renal, biomarcadores sanguíneos da doença de Alzheimer e risco de demência em idosos residentes na comunidade”, conduzido por Francesca Gasparini e equipe, acompanhou 2.279 adultos com idade média de 72 anos sem sinais iniciais de demência. Os pesquisadores mediram a função renal e níveis de diversos biomarcadores de Alzheimer, incluindo proteínas tau, beta-amiloide, cadeias leves de neurofilamento e proteínas gliais fibrilares ácidas.
O estudo revelou que indivíduos com função renal comprometida apresentavam níveis mais elevados de biomarcadores sanguíneos, mesmo sem aumento geral do risco de desenvolver demência. Isso significa que exames de sangue podem sugerir risco elevado de Alzheimer em pacientes com problemas renais, quando na verdade o risco global de demência não é maior.
Como a função renal impacta o início da demência

Os rins desempenham papel crucial na eliminação de resíduos e toxinas da corrente sanguínea. Quando a função renal é reduzida, substâncias que normalmente seriam excretadas permanecem no sangue, o que pode influenciar a concentração de biomarcadores de Alzheimer.
O estudo também identificou que, em um subgrupo de pessoas com função renal comprometida e níveis elevados de cadeia leve de neurofilamento, o risco de demência era quase dobrado em comparação com aqueles com rins saudáveis e níveis semelhantes de biomarcadores. Isso sugere que a saúde renal pode afetar o momento do início da demência, mesmo sem alterar o risco geral da doença.
Dados do acompanhamento e interpretação clínica
- Participantes foram acompanhados por cerca de oito anos
- 1.722 tinham função renal saudável, 221 desenvolveram demência
- 557 tinham função renal comprometida, 141 desenvolveram demência
- A relação entre biomarcadores elevados e função renal permaneceu mesmo excluindo casos de demência
O estudo ajustou os resultados para fatores como idade, sexo e APOEe4, um marcador genético ligado ao risco de Alzheimer, confirmando que a função renal por si só não aumenta o risco global, mas pode alterar a interpretação dos exames.
Importância do monitoramento da função renal
Para médicos e profissionais de saúde, esses achados reforçam a necessidade de considerar a função renal ao avaliar biomarcadores de Alzheimer. Monitorar os rins pode ajudar a identificar pacientes em risco de progressão mais rápida da demência e a evitar diagnósticos equivocados baseados apenas em exames de sangue.

