Um fóssil encontrado em uma pedreira de Mato Grosso do Sul trouxe respostas inéditas sobre a origem da vida terrestre e reacendeu o debate sobre como os primeiros ecossistemas do planeta foram estruturados.
A análise minuciosa desse material permitiu identificar, com elevado nível de precisão, um dos mais antigos líquens já registrados: o Spongiophyton, organismo que viveu há aproximadamente 410 milhões de anos e desempenhou papel decisivo na transição do ambiente aquático para o terrestre.
Como um fóssil revelou os pioneiros da adaptação terrestre
O estudo, publicado na Science Advances, reuniu especialistas de 19 instituições em uma investigação que utilizou técnicas avançadas de imageamento. Entre elas, destaca-se o uso de luz síncrotron de última geração, recurso que possibilitou visualizar estruturas internas do organismo com resolução de 170 nanômetros. Esse nível de detalhe permitiu diferenciar componentes essenciais, apontando características típicas de líquens e descartando outras possibilidades, como plantas primitivas.
A avaliação evidenciou a presença de elementos fundamentais para a classificação, incluindo:
- Células de algas preservadas
- Sinais robustos de compostos nitrogenados
- Micropartículas de cálcio associadas a mecanismos de fotoproteção
- Lipídios compatíveis com materiais produzidos por líquens modernos
Esses marcadores demonstram que o Spongiophyton possuía composição semelhante à dos líquens atuais, especialmente devido à presença de quitina, substância resistente e rica em nitrogênio, incompatível com organismos vegetais não vasculares.
Importância da descoberta

Os líquens são organismos simbióticos formados pela associação entre fungos e algas. Eles têm a habilidade singular de dissolver rochas, captar nutrientes e gerar biomassa, atuando como verdadeiros engenheiros ecológicos. Ao desempenharem essas funções há milhões de anos, foram determinantes para a formação dos primeiros solos e para a expansão de outros seres vivos sobre superfícies rochosas.
Segundo o estudo, esses organismos não eram elementos marginais do ambiente primitivo, mas sim agentes fundamentais na transformação da paisagem. Sua capacidade de alterar substratos e gerar matéria orgânica permitiu o desenvolvimento de ambientes que, posteriormente, sustentariam florestas, campos e a diversificação de plantas e animais terrestres.
O que o estudo traz de novo para a paleontologia
A detecção clara de nitrogênio e cálcio preservados em fósseis tão antigos representa um marco para a paleontologia. Essa evidência molecular reforça o valor de técnicas analíticas de alta precisão e abre caminho para uma nova fase de estudos sobre organismos primitivos, agora com foco em biomarcadores quase impossíveis de identificar até pouco tempo.
Além disso, o achado amplia o entendimento sobre como a vida se estruturou em terra firme e como esses organismos modificaram o planeta a ponto de torná-lo habitável para formas mais complexas.

