Seu cérebro pode estar sofrendo danos silenciosos por causa do celular

Checar o celular o tempo todo prejudica memória e foco. (Foto: Tirachard Kumtanom via Canva)
Checar o celular o tempo todo prejudica memória e foco. (Foto: Tirachard Kumtanom via Canva)

A cena é comum: o celular vibra, a tela acende e, quase sem perceber, você o desbloqueia mais uma vez. O que parece um hábito inofensivo pode estar causando alterações profundas no cérebro. 

Estudos realizados pela Nottingham Trent University, pela Keimyung University e pela Singapore Management University mostram que a frequência com que checamos o smartphone está ligada a mudanças neurológicas semelhantes às observadas em comportamentos de dependência. 

Além disso, o simples ato de desbloquear o aparelho repetidamente pode comprometer a memória, produtividade e atenção.

Quando o uso do celular ultrapassa o limite saudável

As pesquisas revelam que desbloquear o smartphone mais de cem vezes por dia já indica um padrão de uso problemático. No entanto, muitos usuários acreditam checar o celular apenas algumas vezes, criando uma percepção distorcida da própria rotina. Essa discrepância dificulta o reconhecimento de que o comportamento se tornou compulsivo.

Participantes acompanhados ao longo de oito anos acessaram o aparelho entre 50 e 100 vezes ao dia, com intervalos que variavam de 10 a 20 minutos. Esse ritmo cria ciclos constantes de estímulo, ativando sistemas de recompensa cerebral associados à busca imediata por novidade.

Como as interrupções repetidas afetam o cérebro

A pesquisa da Singapore Management University trouxe um ponto crucial: o que mais compromete o desempenho cognitivo não é o tempo total de uso, mas a frequência das interrupções. A cada checagem, o cérebro precisa alternar entre diferentes contextos, interrompendo o raciocínio e quebrando o estado de concentração profunda.

Isso ajuda a explicar por que quem checa notificações com frequência costuma relatar:

  • Dificuldade de manter foco em tarefas longas
  • Esquecimentos recorrentes de informações recentes
  • Queda de produtividade ao longo do dia
  • Ansiedade aumentada diante de alertas e mensagens

O efeito negativo não se limita a tarefas intelectuais. Depois de cada interrupção, o cérebro pode levar até 25 minutos para retomar o nível de foco anterior. Esse acúmulo de microquebras reduz a eficiência e aumenta a sensação de fadiga mental.

Consequências sociais e comportamentais da hiperconexão

Uso frequente do celular altera circuitos cerebrais. (Foto: Tiankukuk via Canva)
Uso frequente do celular altera circuitos cerebrais. (Foto: Tiankukuk via Canva)

As pesquisas também indicam que o impacto extrapola o campo cognitivo. Muitos continuam verificando o celular durante refeições, conversas e momentos de lazer, o que afeta a qualidade das interações sociais. 

O hábito se tornou tão presente que grande parte das pessoas dorme com o smartphone ao lado da cama, prolongando a exposição aos estímulos e reduzindo o tempo de recuperação cerebral.

Como iniciar uma desintoxicação digital eficaz

A boa notícia é que o cérebro demonstra capacidade de recuperação. Estudos alemães observaram que apenas três dias com uso reduzido do celular já produzem efeitos positivos na atividade cerebral. Para alcançar esse resultado, especialistas sugerem algumas estratégias:

  • Desativar notificações desnecessárias
  • Excluir apps que estimulam abertura compulsiva
  • Ativar o modo em escala de cinza
  • Criar horários específicos para checar mensagens
  • Manter o celular fora do campo de visão durante o trabalho

Práticas simples ajudam a restabelecer padrões saudáveis de atenção e a recuperar a estabilidade cognitiva ao longo do dia.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.