Colapso alimentar mata pinguins-africanos e expõe crise silenciosa nos oceanos

Escassez de sardinhas provoca mortes em massa de pinguins-africanos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Escassez de sardinhas provoca mortes em massa de pinguins-africanos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Populações de pinguins-africanos vêm despencando em ritmo alarmante, e novas análises científicas revelam que a escassez de sardinhas, seu principal alimento, desencadeou uma verdadeira onda de mortalidade. O estudo, publicado na revista Ostrich: Journal of African Ornithology, traz números que chocam e reforçam a urgência de proteção ambiental na costa sul-africana. Para entender a dimensão do colapso, é preciso considerar alguns fatores-chave:

  • Sardinhas representam a base energética das aves, especialmente antes da muda;
  • Períodos de jejum prolongado tornam a disponibilidade de alimento ainda mais crítica;
  • Gestão pesqueira inadequada acentua oscilações naturais da população de peixes.

Quando a cadeia alimentar quebra, os pinguins pagam primeiro

O ciclo anual de muda torna esses animais extremamente vulneráveis. Nessa fase, eles permanecem cerca de três semanas em terra firme, incapazes de buscar alimento. Para suportar o período, dependem de reservas acumuladas previamente. Contudo, com a diminuição drástica das sardinhas na costa oeste, muitos pinguins não conseguem engordar o suficiente e simplesmente não sobrevivem ao jejum.

Falta de alimento leva espécie ao risco extremo de extinção (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Falta de alimento leva espécie ao risco extremo de extinção (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

As análises realizadas por pesquisadores do Departamento de Florestas, Pescas e Meio Ambiente da África do Sul, em colaboração com a Universidade de Exeter, revelam que ilhas como Dassen e Robben, antes prósperas, se tornaram áreas de perdas massivas. Estimativas de longo prazo indicam que mais de 60 mil indivíduos reprodutores desapareceram no intervalo de poucos anos.

Pesca excessiva e mudanças ambientais: uma combinação devastadora

A queda do estoque de sardinhas não ocorreu por um único motivo. Além das mudanças oceânicas que afetam a distribuição dos cardumes, a sobrepesca histórica pressionou ainda mais o ecossistema. Isso altera profundamente o equilíbrio da cadeia trófica e reduz a chance de recuperação natural das aves. Para quantificar o impacto, o estudo examinou duas décadas de dados sobre:

  • Número de casais reprodutores;
  • Presença de adultos em muda;
  • Taxas de sobrevivência;
  • Retorno às colônias após períodos críticos.

A comparação com indicadores de disponibilidade de presas confirmou a ligação direta entre a escassez de sardinhas e as quedas populacionais.

Medidas urgentes para salvar uma espécie à beira do colapso

A classificação recente do pinguim-africano como criticamente ameaçado de extinção pela IUCN evidencia a gravidade da situação. Entre as ações consideradas mais eficazes estão a recuperação dos estoques de sardinhas, redução da pressão pesqueira em períodos críticos e expansão das zonas de proteção, como as instauradas recentemente ao redor da Ilha Robben.

Sem tais medidas, especialistas alertam que as colônias podem entrar em um declínio irreversível, comprometendo todo o ecossistema.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.