Borboletas enxergam de forma diferente no verão e no outono, revela pesquisa

Estudo revela: borboletas mudam a visão conforme as estações (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Estudo revela: borboletas mudam a visão conforme as estações (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A transição entre verão e outono não altera apenas paisagens: ela remodela profundamente o funcionamento biológico de diversas espécies. Um novo estudo sobre a borboleta-olho-de-pavão (Junonia coenia) mostra que, além de mudar a coloração das asas conforme a estação, o inseto também ajusta seu sistema visual de maneira complexa, um mecanismo que pode ser essencial para sobreviver a variações ambientais.

Essas transformações acompanham a mudança brusca entre dias quentes e frios, influenciando tanto a fisiologia quanto os comportamentos de termorregulação. Para entender o fenômeno, pesquisadores analisaram borboletas ao longo de vários meses e observaram padrões que conectam clima, comportamento e genética. Principais achados do estudo:

  • Asas claras no verão e escuras no outono, favorecendo controle térmico;
  • Maior exposição ao sol em indivíduos escuros durante períodos frios;
  • Alterações sazonais em genes ligados à visão e ao desenvolvimento ocular;
  • Diferenças na percepção do ambiente dependendo da estação de desenvolvimento da lagarta.

O que muda nos olhos conforme a estação

Cores e sentidos das borboletas se transformam entre verão e outono (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Cores e sentidos das borboletas se transformam entre verão e outono (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Publicado na revista Functional Ecology, o trabalho investigou tecidos oculares para identificar padrões de expressão gênica. Os cientistas verificaram que borboletas de outono, mais escuras e mais dependentes de aquecimento solar, exibem ajustes significativos em genes associados à visão. Embora a sensibilidade direta às cores não tenha variado, diversos marcadores moleculares indicam que o processamento visual se adapta conforme o ambiente de origem da lagarta.

Esse resultado reforça a ideia de que a plasticidade sensorial é um recurso estratégico: ao emergirem em condições diferentes, as borboletas passam a interpretar o mundo de modos distintos, mesmo vivendo apenas alguns dias como adultas.

Natureza como laboratório vivo

Realizar o estudo em ambientes naturais tornou os resultados ainda mais robustos. Mesmo diante das variações climáticas e ecológicas típicas de pradarias abertas, padrões consistentes de comportamento e expressão gênica foram identificados. Isso destaca a importância de pesquisas de longo prazo que observam espécies no contexto real onde nascem, se desenvolvem e interagem.

Além disso, a escolha da borboleta-olho-de-pavão como organismo modelo é estratégica. Trata-se de uma espécie com histórico de estudos sobre plasticidade, abundante em diversas regiões e ideal para investigar como as condições ambientais moldam sistemas sensoriais.

A próxima etapa será decifrar qual estímulo sazonal, temperatura, luz ou outro fator ambiental, provoca a reprogramação do sistema visual. Compreender esse gatilho pode ampliar o entendimento sobre como animais ajustam seus sentidos para lidar com ambientes imprevisíveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.