Tratamento inovador ativa supercélulas capazes de localizar e destruir câncer 

Estudo revela estratégia promissora contra câncer agressivo. (Foto: Photo Library via Canva)
Estudo revela estratégia promissora contra câncer agressivo. (Foto: Photo Library via Canva)

Uma nova abordagem de imunoterapia criada por cientistas da UCLA está chamando atenção por alcançar resultados inéditos contra um dos tumores mais desafiadores da medicina moderna. 

Trata-se de uma terapia celular capaz de localizar, penetrar e destruir células de câncer pancreático, inclusive quando já há metástases. O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), abre caminho para uma possível mudança de paradigma no enfrentamento da doença.

Como a tecnologia celular foi desenvolvida

A inovação consiste na criação de células imunológicas especiais produzidas a partir de células-tronco humanas. Essas células são transformadas em células NKT invariantes, conhecidas por sua compatibilidade natural com diferentes sistemas imunológicos. Em seguida, recebem um receptor de antígeno quimérico (CAR), dando origem às células CAR-NKT, capazes de reconhecer estruturas presentes no câncer pancreático.

Essa engenharia complexa foi detalhada por Yanruide Li, autora principal do estudo. A pesquisa mostra que, em modelos com camundongos, as células modificadas não só encontraram o tumor com precisão, mas também invadiram seu interior, algo que muitos tratamentos imunológicos não conseguem fazer. O trabalho foi coordenado pela pesquisadora sênior Lili Yang, especialista em microbiologia e imunologia.

Terapia representa avanço relevante

Imunoterapia pronta para uso mostra forte ação antitumoral. (Foto: Science Photo via Canva)
Imunoterapia pronta para uso mostra forte ação antitumoral. (Foto: Science Photo via Canva)

Além da resposta robusta observada nos testes pré-clínicos, a terapia chamou atenção por outros motivos:

  • Continuidade da ação imunológica, mesmo em ambientes hostis, evitando o esgotamento celular.
  • Ataque ao tumor por múltiplas vias simultaneamente, reduzindo a chance de escape.
  • Compatibilidade universal, uma vez que as células NKT podem ser produzidas em massa a partir de doadores.
  • Custo potencialmente reduzido, com estimativas de cerca de 5 mil dólares por dose, valor muito inferior às terapias CAR-T personalizadas.

Outro ponto favorável é que a proteína alvo do tratamento também está presente em tumores de mama, ovário e pulmão, ampliando a possibilidade de aplicação para diferentes tipos de câncer. Estudos conduzidos pela mesma equipe demonstraram eficácia adicional contra câncer de mama triplo-negativo e câncer de ovário.

Limitações atuais e próximos passos

Apesar dos resultados animadores, todos os experimentos ainda foram restritos a animais. Os pesquisadores ressaltam que tumores sólidos em humanos são mais complexos, podendo alterar características e escapar da detecção. Além disso, a produção em grande escala de células geneticamente idênticas exige rigor logístico e regulatório.

Mesmo assim, a equipe já prepara a submissão de documentos à Food and Drug Administration (FDA) para iniciar os primeiros testes clínicos com pacientes. O objetivo é comprovar que os efeitos observados em laboratório podem se repetir em humanos com segurança e durabilidade.

O câncer de pâncreas é um dos tumores mais letais, frequentemente diagnosticado em estágios avançados e resistente a diversos tratamentos. Uma terapia pronta para uso, escalável e de custo reduzido representa um potencial divisor de águas não só para essa doença, mas para outros tumores agressivos que compartilham alvos semelhantes.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.