Hanseníase cresce em Mato Grosso e força criação de plano emergencial

Mato Grosso lidera casos de hanseníase em 2024. (Foto: Getty Images via Canva)
Mato Grosso lidera casos de hanseníase em 2024. (Foto: Getty Images via Canva)

A hanseníase, doença milenar que ainda desafia sistemas de saúde, voltou a ganhar destaque em Mato Grosso. O estado registrou mais de 4.600 novos casos em 2024, consolidando-se novamente como líder nacional em taxa de detecção. 

Esse cenário indica que sem estratégias consistentes, o controle da enfermidade pode retroceder, comprometendo décadas de esforços.

Crescimento alarmante e resposta institucional

O aumento expressivo dos registros levou o Tribunal de Contas do Estado a exigir que governo e municípios apresentem, em até 30 dias, um plano de ação estruturado. Esse documento deverá conter metas claras, prazos definidos, responsáveis diretos, orçamento e mecanismos de monitoramento. Além disso, a execução das medidas precisa começar em até 180 dias, garantindo que a resposta não seja apenas burocrática, mas efetiva.

Essa determinação reforça a importância de políticas públicas integradas, capazes de articular saúde, assistência social e segurança pública. O objetivo é criar uma rede sólida que assegure prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, evitando que a doença continue a se espalhar silenciosamente.

Por que a hanseníase ainda preocupa?

Sintomas incluem manchas e perda de sensibilidade. (Foto: Getty Images via Canva)
Sintomas incluem manchas e perda de sensibilidade. (Foto: Getty Images via Canva)

Apesar de ser uma doença tratável, a hanseníase permanece como um desafio por causa da sua capacidade de causar lesões neurológicas irreversíveis quando não diagnosticada a tempo. O atraso no tratamento pode resultar em deformidades físicas, estigma social e exclusão econômica.

Entre os principais sintomas que merecem atenção estão:

  • Manchas na pele claras, avermelhadas ou amarronzadas, geralmente com limites imprecisos.
  • Perda de sensibilidade ao calor, tato e dor nas áreas afetadas.
  • Sensações anormais como formigamento, fisgadas ou choques nos nervos.
  • Dormência e fraqueza muscular, especialmente em mãos, pés e face.
  • Redução de pelos e suor nas regiões comprometidas.

Reconhecer esses sinais é essencial para buscar atendimento imediato e evitar complicações.

Tratamento gratuito e eficaz

Um ponto fundamental é que o tratamento com poliquimioterapia (PQT) está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A partir da primeira dose, o paciente deixa de transmitir a doença, o que torna a adesão ao tratamento um fator decisivo para interromper a cadeia de transmissão.

Além disso, o acompanhamento médico garante que possíveis sequelas sejam minimizadas e que o paciente receba suporte integral durante o processo de cura.

Caminhos para conter o avanço

Para que Mato Grosso consiga reverter esse quadro, será necessário:

  • Investir em campanhas educativas que reduzam o estigma e incentivem a busca por diagnóstico.
  • Capacitar profissionais de saúde para identificar precocemente os sinais da doença.
  • Ampliar o acesso ao tratamento em todas as regiões do estado.
  • Monitorar continuamente os indicadores para avaliar a efetividade das ações.

Essas medidas, quando aplicadas de forma articulada, podem transformar o cenário atual e reduzir significativamente os índices de hanseníase.O desafio imposto pela hanseníase em Mato Grosso exige respostas rápidas e consistentes. A determinação de um plano de ação em 30 dias é um passo importante, mas o sucesso dependerá da execução prática e da mobilização de toda a sociedade.

Afinal, detectar cedo, tratar corretamente e combater o estigma são as chaves para vencer essa doença que ainda insiste em permanecer entre nós.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.