Por muito tempo, pensava-se que a região da Etiópia, há 3,4 milhões de anos, era habitada apenas pelo Australopithecus afarensis, famoso pela icônica Lucy. No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature pela Universidade Estadual do Arizona (ASU) mostra que nossos ancestrais compartilhavam o mesmo território com outra espécie, o Australopithecus deyiremeda.
A descoberta se baseia em um fóssil fragmentado, conhecido como Pé de Burtele, que permaneceu misterioso por mais de uma década até que novos achados permitissem associá-lo a dentes e mandíbulas compatíveis. Diferentes formas de andar e viver
- Locomoção híbrida: o A. deyiremeda possuía dedão opositor, ideal para escalar árvores, mas ainda era capaz de caminhar em terra firme com impulso pelo segundo dedo;
- Dieta diferenciada: análise isotópica dos dentes revelou que Lucy consumia plantas C4 de áreas abertas, enquanto o A. deyiremeda se alimentava de plantas C3 típicas de regiões arborizadas;
- Crescimento infantil: mandíbulas de indivíduos jovens mostram que o desenvolvimento seguia padrões semelhantes entre as espécies, mesmo com estilos de vida distintos.
Bipedalismo em múltiplas versões

O estudo evidencia que o bipedalismo não evoluiu de uma única forma. Enquanto Lucy já caminhava com pés totalmente adaptados à locomoção terrestre, o A. deyiremeda mantinha características mais antigas, que combinavam habilidade para escalar e andar. Isso demonstra que vários caminhos evolutivos coexistiam, experimentando diferentes soluções para sobrevivência no mesmo ambiente.
Além disso, o contraste nas dietas indica que essas espécies ocupavam nichos ecológicos distintos, evitando competição direta e permitindo que ambas prosperassem lado a lado.
Aprendendo com o passado para compreender o presente
Estudos como o do Pé de Burtele ajudam a entender como mudanças ambientais moldaram a evolução humana. Conhecer hábitos de locomoção, alimentação e crescimento infantil oferece insights sobre a plasticidade comportamental e ecológica de nossos ancestrais.Essa compreensão também serve como alerta para o presente: a diversidade e a adaptação são cruciais para a sobrevivência em qualquer contexto, seja em ecossistemas antigos ou modernos.

