Baixa de nutriente crucial no cérebro pode explicar aumento da ansiedade

Colina baixa no cérebro pode influenciar quadros de ansiedade. (Foto: Handmadefont via Canva)
Colina baixa no cérebro pode influenciar quadros de ansiedade. (Foto: Handmadefont via Canva)

Os transtornos de ansiedade têm causas multifatoriais, mas pesquisas recentes trazem um novo e surpreendente elemento biológico para essa discussão: a redução dos níveis de colina, um nutriente essencial para a saúde cerebral. 

O estudo, conduzido por Richard Maddock e Jason Smucny e publicado na revista Nature Molecular Psychiatry, analisou informações de 25 estudos e encontrou um padrão químico consistente que pode ajudar a explicar por que certas pessoas desenvolvem ansiedade de maneira mais intensa.

Quando a química cerebral perde o equilíbrio?

A colina participa de processos fundamentais, como formação das membranas celulares e produção de compostos envolvidos na memória, no humor e no controle muscular. Embora o corpo produza pequenas quantidades, a maior parte vem da alimentação.

A meta-análise observou 370 pessoas com transtornos de ansiedade e as comparou a 342 indivíduos sem o quadro, revelando que os primeiros apresentavam cerca de 8% menos colina no cérebro. Apesar de parecer uma diferença pequena, essa redução foi especialmente marcante no córtex pré-frontal, região estratégica para regular pensamentos, emoções e tomada de decisões.

Esse déficit ganha relevância porque o cérebro de pessoas ansiosas costuma operar em modo de hiperalerta, o que aumenta o gasto energético e pode elevar a demanda por determinados compostos. Assim, um nível baixo de colina pode dificultar a capacidade do cérebro de manter o equilíbrio químico necessário para responder ao estresse.

Ansiedade e funcionamento cerebral

Deficiência de colina afeta áreas do cérebro ligadas ao medo. (Foto: NunDigital via Canva)
Deficiência de colina afeta áreas do cérebro ligadas ao medo. (Foto: NunDigital via Canva)

Diversas áreas cerebrais participam da resposta ao medo e à percepção de ameaça. Entre elas:

  • Amígdala, que avalia perigo;
  • Córtex pré-frontal, responsável por frear impulsos e analisar riscos;
  • Sistemas de neurotransmissores, como a norepinefrina, tendem a ficar elevados em quadros ansiosos.

Quando esse sistema fica desregulado, situações cotidianas podem parecer ameaçadoras, como ocorre no transtorno de ansiedade generalizada, no transtorno do pânico ou no transtorno de ansiedade social.

Tecnologia avançada ajudou a identificar o desequilíbrio

Os autores utilizaram dados obtidos por espectroscopia de ressonância magnética de prótons (1H-MRS), uma técnica não invasiva capaz de mapear substâncias químicas dentro do cérebro. Ela não produz apenas imagens anatômicas, mas mostra a quantidade de neurometabólitos em regiões específicas, tornando possível detectar padrões como a redução da colina.

E o papel da alimentação nisso tudo?

Ainda não existe evidência conclusiva de que aumentar a ingestão de colina reduza sintomas de ansiedade. Porém, como o nutriente é crucial para a saúde do sistema nervoso, manter níveis adequados na dieta é recomendado. Entre os alimentos naturalmente ricos em colina estão:

  • Fígado bovino
  • Ovos (principalmente a gema)
  • Carne bovina e frango
  • Peixes
  • Soja e leite

Ácidos graxos ômega-3 presentes em peixes como o salmão também parecem atuar de forma complementar na saúde cerebral.

Um caminho promissor para compreender a ansiedade

A descoberta de que pessoas com ansiedade apresentam menor disponibilidade de colina reforça que esses transtornos têm bases químicas reais e mensuráveis. 

Embora mais estudos sejam necessários, a pesquisa amplia o entendimento sobre os mecanismos biológicos envolvidos e pode abrir portas para futuras estratégias de cuidado baseadas tanto em intervenções nutricionais quanto em abordagens clínicas tradicionais.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.