Aves surpreendem cientistas ao exibir sinais claros e evoluídos de consciência

Aves demonstram sinais de consciência e percepção subjetiva avançada (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Aves demonstram sinais de consciência e percepção subjetiva avançada (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A ideia de que apenas mamíferos seriam capazes de perceber o mundo de forma subjetiva está ficando para trás. Novas pesquisas da Ruhr University Bochum, publicadas na Philosophical Transactions of the Royal Society B, sugerem que aves exibem formas avançadas de percepção consciente, desafiando teorias tradicionais sobre como a mente evoluiu. Os resultados mostram que a consciência pode ser mais antiga, mais diversa e mais distribuída entre espécies do que supomos.

Logo nos primeiros experimentos, os pesquisadores observaram que diversas espécies de aves demonstram flexibilidade perceptiva, alternam interpretações visuais e apresentam respostas compatíveis com experiências internas. Principais pontos revelados pelos estudos:

  • Aves demonstram percepção subjetiva, não apenas reatividade automática;
  • Estruturas cerebrais equivalentes ao córtex sustentam esse processamento;
  • Algumas espécies exibem sinais de autoconsciência situacional;
  • Estados internos modulam o comportamento, indicando processamento consciente;
  • Teoria ALARM propõe caminhos evolutivos para o surgimento da consciência.

Quando pássaros mostram o que sentem 

Pesquisas revelam que pássaros podem reconhecer a si mesmos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Pesquisas revelam que pássaros podem reconhecer a si mesmos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Os experimentos comportamentais revelaram que, diante de estímulos ambíguos, aves como pombos alternam interpretações, um fenômeno típico de percepção consciente. Essa mudança não depende do estímulo em si, mas da forma como ele é experienciado internamente. Além disso, aves como corvos exibem padrões neurais que refletem a percepção subjetiva, mesmo quando o estímulo não está fisicamente presente.

Esse processamento é sustentado pelo nidopallium caudolaterale (NCL), uma estrutura do prosencéfalo aviário comparável ao córtex pré-frontal dos mamíferos. Sua conectividade complexa permite integrar informações, filtrar estímulos e sustentar estados perceptivos, habilidades essenciais para a consciência.

Autopercepção: um passo além do simples reflexo

Outro conjunto de estudos indica que algumas aves reagem de forma diferente quando veem seu próprio reflexo ou outro indivíduo real. Esse ajuste comportamental sugere uma forma básica de autopercepção, relacionada ao reconhecimento do próprio corpo e à distinção entre “eu” e “outro”.

Embora nem todas passem no teste de espelho, o padrão observado aponta para autoconsciência situacional, um dos pilares da cognição avançada.

A consciência como ferramenta evolutiva

Cérebro de aves sustenta experiências conscientes sem córtex humano (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Cérebro de aves sustenta experiências conscientes sem córtex humano (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Para explicar como esse fenômeno se desenvolveu, os autores Albert Newen e Carlos Montemayor propõem a Teoria ALARM, que divide a evolução da consciência em três etapas funcionais:

  • Despertar Básico – Detecta ameaças críticas à sobrevivência, ativando estados de alerta e respostas rápidas;
  • Alerta Geral – Seleciona informações relevantes e permite aprender relações novas;
  • Consciência Reflexiva – Sustenta representação interna do próprio corpo, planejamento e coordenação social.

Sob essa perspectiva, a consciência não surgiu para pensar de forma abstrata, mas para sobreviver melhor, aprender mais rápido e interagir com outros de maneira eficiente. O cérebro das aves, apesar de diferente do nosso, parece ter desenvolvido soluções anatômicas equivalentes para essas mesmas funções.

Os resultados fortalecem a ideia de que a consciência é uma característica gradual, multifuncional e evolutivamente útil. Aves não apenas percebem o mundo, elas experimentam, interpretam e respondem de maneiras que revelam estados internos complexos, aproximando ainda mais seus comportamentos dos mamíferos.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.