Nova pesquisa revela como trauma cerebral pode acelerar Alzheimer

Lesões na cabeça podem acelerar danos no cérebro. (Foto: Getty Images via Canva)
Lesões na cabeça podem acelerar danos no cérebro. (Foto: Getty Images via Canva)

A relação entre traumatismos cranianos e doenças neurodegenerativas nunca esteve tão em evidência. Agora, um novo estudo da Case Western Reserve University, publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, reforça que o tempo entre a lesão e o início do tratamento pode influenciar profundamente o risco de desenvolver Alzheimer. 

A descoberta reacende o alerta de especialistas para a importância de agir rápido em casos de lesão cerebral traumática.

O que o novo estudo revelou

O traumatismo cranioencefálico, ou TCE, é considerado uma das condições neurológicas mais preocupantes da atualidade. Estima-se que 69 milhões de pessoas sofram esse tipo de lesão todos os anos, segundo dados apresentados no Journal of Neurosurgery. Além dos danos imediatos, há um impacto silencioso e progressivo no cérebro que pode se manifestar anos depois.

A equipe da Case Western Reserve investigou essa relação ao analisar registros de saúde de mais de 100 milhões de pacientes nos Estados Unidos. Entre eles, foram identificadas 37 mil pessoas com lesões cerebrais moderadas ou graves, com idades entre 50 e 90 anos. A partir desses dados, foram comparados indivíduos que receberam tratamento dentro da primeira semana da lesão com aqueles cujo atendimento foi atrasado.

Os resultados chamam atenção. Pacientes tratados em até sete dias tiveram:

  • 41% menos risco de desenvolver Alzheimer após três anos
  • 30% menos risco após cinco anos
  • Melhores índices cognitivos no longo prazo

Essa diferença sugere que o cérebro lesionado segue um processo inflamatório contínuo, e que intervir cedo ajuda a limitar danos que se propagariam pelas estruturas cerebrais.

Por que o trauma pode acelerar o Alzheimer?

Tratamento rápido após trauma reduz risco de Alzheimer. (Foto: Roberto Castillo via Gemini)
Tratamento rápido após trauma reduz risco de Alzheimer. (Foto: Roberto Castillo via Gemini)

O estudo destaca especialmente o papel da inflamação. Após um TCE, o cérebro inicia uma cascata de respostas inflamatórias para tentar reparar o dano. Contudo, quando esse processo permanece ativo por tempo prolongado, passa a prejudicar células nervosas, afetar conexões neurais e favorecer alterações associadas a doenças neurodegenerativas.

A gordura visceral, hormônios inflamatórios e alterações metabólicas pré-existentes também podem amplificar esses efeitos, acelerando processos que envolvem degeneração cerebral.

O papel fundamental da neurorreabilitação

Os pesquisadores também apontam que terapias realizadas logo após o trauma são decisivas. Estratégias como:

  • fisioterapia
  • terapia ocupacional
  • reabilitação cognitiva
  • terapia da fala

aproveitam a plasticidade cerebral, a capacidade natural que o cérebro tem de se reorganizar mesmo após lesões. Estudos mostram que pacientes submetidos à neurorreabilitação ainda durante a internação têm melhor desempenho cognitivo na alta hospitalar.

Implicações para o futuro da saúde cerebral

A descoberta abre caminho para mudanças importantes nas rotinas hospitalares. A análise sugere que o atendimento precoce não apenas reduz sequela imediata, mas também atua como uma estratégia preventiva para doenças neurodegenerativas, incluindo Alzheimer e, possivelmente, Parkinson.

Os autores Zhenxiang Gao, Rong Xu e Austin Kennemer afirmam que o próximo passo é avaliar como o momento exato da reabilitação interfere no risco de outras condições.Vale destacar que qualquer suspeita de lesão na cabeça requer avaliação médica urgente. O tempo de resposta pode determinar como o cérebro envelhece nas próximas décadas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.