O consumo de ultraprocessados está crescendo rapidamente e já representa quase um quarto da alimentação dos brasileiros. Estudos recentes publicados na revista Lancet por mais de 40 cientistas, liderados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), mostram que esse aumento não é um fenômeno isolado.
Levantamentos envolvendo 93 países mostram que o consumo de ultraprocessados aumentou na maioria das nações, com Estados Unidos e Brasil entre os que registram os maiores índices, gerando sérios desafios para a saúde pública.
O que são ultraprocessados e como afetam a dieta
Os ultraprocessados são alimentos industrializados altamente modificados, feitos a partir de ingredientes baratos e aditivos químicos. Diferem-se dos alimentos não processados ou minimamente processados, que mantêm sua estrutura original, e dos processados, que são modificados de forma mais simples. Exemplos comuns de ultraprocessados incluem:
- Biscoitos recheados
- Refrigerantes
- Macarrão instantâneo
- Iogurtes saborizados
O processamento tem como objetivo aumentar a durabilidade e palatabilidade, mas reduz o valor nutricional e aumenta a exposição a substâncias químicas e aditivos nocivos.
Tendências globais e impacto em diferentes países

O aumento do consumo de ultraprocessados não é uniforme. Alguns pontos importantes:
- Estados Unidos lideram com mais de 60% da dieta baseada em ultraprocessados
- Reino Unido manteve-se estável em 50%
- No Brasil, o consumo de ultraprocessados mais que dobrou desde a década de 1980, saltando de 10% para 23% da alimentação total
- China, Argentina e Espanha registraram crescimento significativo nas últimas décadas
- Países de alta renda tendem a ter consumo elevado, mas fatores culturais influenciam variações
Essa mudança global acompanha o crescimento das taxas de obesidade, diabetes tipo 2, câncer colorretal e doenças inflamatórias intestinais, reforçando a importância de políticas de saúde pública.
Consequências para a saúde
Revisões sistemáticas de 104 estudos de longo prazo indicam que dietas ricas em ultraprocessados estão associadas a:
- Ingestão excessiva de calorias
- Menor qualidade nutricional
- Maior risco de doenças crônicas, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e metabólicas
A substituição de padrões alimentares tradicionais por ultraprocessados é um dos fatores centrais do aumento global de doenças relacionadas à alimentação.
Estratégias para reduzir o consumo
Para proteger a saúde, especialistas recomendam:
- Sinalização clara de aditivos, excesso de açúcar, sal e gordura nas embalagens
- Restrição de ultraprocessados em escolas, hospitais e instituições públicas
- Incentivo à oferta de alimentos in natura
- Políticas de sobretaxação de produtos ultraprocessados para financiar alimentos frescos para famílias de baixa renda
- Limitar publicidade, especialmente direcionada ao público infantil
Essas medidas buscam responsabilizar grandes corporações pelo impacto de seus produtos e promover dietas mais saudáveis.

