A região de Ofiúco, berço de centenas de estrelas recém-nascidas, acaba de revelar um fenômeno capaz de reescrever parte do que se sabe sobre a formação estelar. Observações conduzidas com o instrumento MIRI, a bordo do Telescópio Espacial James Webb (JWST), identificaram radiação ultravioleta (UV) ao redor de cinco estrelas extremamente jovens. A descoberta surpreende porque essas protoestrelas não deveriam, teoricamente, emitir esse tipo de radiação.
Logo após a introdução do estudo publicado na Astronomy & Astrophysics, ficou evidente que o comportamento observado não se encaixa nos modelos clássicos de evolução estelar. Por isso, a equipe, incluindo pesquisadores como Iason Skretas e Agata Karska, ampliou a investigação para entender a real origem dessa radiação. Destaques iniciais da descoberta:
- Detecção de radiação UV em protoestrelas que teoricamente não deveriam produzi-la;
- Observações realizadas na nuvem molecular de Ofiúco, a 450 anos-luz da Terra;
- Uso do MIRI/JWST para identificar linhas de H₂ impossíveis de medir a partir do solo;
- Confirmação de que o UV afeta diretamente o gás ao redor das estrelas jovens;
- Inconsistência entre a intensidade de UV prevista por fontes externas e a emissão observada.
Quando o ultravioleta aparece onde não deveria
A análise das linhas de hidrogênio molecular (H₂) foi crucial para identificar o impacto do UV no ambiente ao redor das protoestrelas. Como o H₂ é a molécula mais abundante do universo, seu comportamento funciona como um marcador sensível para alterações físicas no gás. Entretanto, em regiões frias, essa molécula quase não emite luz, exceto quando ondas de choque aquecem o material, como ocorre nos jatos expelidos por estrelas nascentes.

O JWST, com sua capacidade de observar comprimentos de onda inacessíveis à atmosfera terrestre, mostrou que o UV está, de fato, presente em estruturas próximas aos fluxos de saída. Esse achado levou os pesquisadores a testar hipóteses externas: poderiam as estrelas do tipo B presentes em Ofiúco ser responsáveis por iluminar as protoestrelas vizinhas?
Apesar dos cálculos baseados na distância e nas propriedades dessas estrelas massivas, a intensidade de UV prevista não correspondeu ao efeito observado. Além disso, estimativas feitas por meio da radiação reemitida pela poeira também não sustentaram a hipótese de uma fonte externa dominante.
Indícios fortes apontam para uma origem interna
Como a influência do UV é clara, mas não pode ser atribuída às estrelas vizinhas, a conclusão mais consistente é que a radiação se origina dentro do próprio ambiente das protoestrelas. Processos como choques de acreção ou turbulências internas podem desempenhar um papel inesperado, sugerindo que o nascimento de estrelas é mais energético e complexo do que se pensava.
A descoberta coloca em pauta a necessidade de atualizar os modelos teóricos que descrevem o surgimento de estrelas. Futuras análises do JWST devem integrar informações sobre gás, poeira e gelo a fim de mapear completamente essa produção interna de UV. Além disso, ampliar o número de objetos observados será essencial para definir onde, exatamente, essa radiação está sendo gerada.

