Tartarugas detectam mapa magnético da Terra para sobreviver em longas rotas

Filhotes de tartaruga-cabeçuda usam magnetismo para se localizar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Filhotes de tartaruga-cabeçuda usam magnetismo para se localizar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A capacidade das tartarugas-cabeçudas recém-nascidas de percorrer milhares de quilômetros durante suas migrações sempre intrigou cientistas. Agora, um estudo publicado no Journal of Experimental Biology revela que esses filhotes possuem um mapa magnético interno, permitindo-lhes identificar sua localização e direção em rotas migratórias épicas. Esse avanço explica como esses animais navegam de maneira precisa desde o nascimento, mesmo sem experiências anteriores.

  • Tartarugas-cabeçudas usam magnetismo terrestre para se orientar;
  • Filhotes nascem com uma bússola interna e mapa magnético;
  • Dois mecanismos foram analisados: visão magnética e magnetita corporal;
  • Experimentos mostraram que o sentir o campo magnético é essencial;
  • Descoberta auxilia a compreender migrações e conservação de espécies.

Dois sentidos magnéticos: visão versus sensação

As tartarugas podem teoricamente perceber o campo magnético da Terra de duas formas:

  1. Visão magnética: moléculas sensíveis à luz permitem enxergar padrões magnéticos;
  2. Sensação magnética: cristais de magnetita no corpo permitem sentir o campo.
Tartarugas recém-nascidas navegam pelo campo magnético da Terra (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Tartarugas recém-nascidas navegam pelo campo magnético da Terra (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O estudo demonstrou que, embora a visão magnética possa existir, o componente tátil e sensorial do magnetismo é fundamental para que os filhotes determinem sua posição no mapa magnético global. Essa capacidade garante que cada tartaruga identifique sua localização e siga a direção correta durante migrações que duram décadas.

Experimentos que revelaram o magnetismo

Pesquisadores treinaram filhotes recém-nascidos em campos magnéticos específicos, associando locais à recompensa alimentar. Para demonstrar reconhecimento, os filhotes realizavam um comportamento único: inclinavam o corpo, abriam a boca e agitavam nadadeiras dianteiras, a chamada “dança magnética”.

Posteriormente, aplicando pulsos magnéticos que temporariamente bloqueavam a sensação do campo, observou-se que os filhotes paravam de dançar. Esse resultado confirmou que sentir o campo magnético, e não apenas outro sentido, é crucial para detectar sua posição no mapa terrestre. Os filhotes combinam dois sentidos magnéticos:

  • Bússola interna: determina a direção a seguir;
  • Mapa magnético: indica a posição em relação à Terra.

Juntos, esses mecanismos garantem que as tartarugas-cabeçudas naveguem milhares de quilômetros de maneira precisa, mesmo desde os primeiros dias de vida. 

Além disso, a descoberta reforça a importância do magnetismo terrestre na ecologia animal, podendo auxiliar em estratégias de conservação, rastreamento de rotas e estudo de migrações de espécies ameaçadas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.