Vômito pré-histórico expõe pterossauro desconhecido que viveu no Brasil

Fóssil raro mostra pterossauro filtrador do Cretáceo Inferior. (Foto: Gerada por IA via Gemini)
Fóssil raro mostra pterossauro filtrador do Cretáceo Inferior. (Foto: Gerada por IA via Gemini)

Uma descoberta rara e surpreendente está ajudando a reescrever a história dos répteis voadores que habitaram o território brasileiro há mais de 66 milhões de anos. Um vômito fossilizado, encontrado na Chapada do Araripe, permitiu a identificação de uma nova espécie de pterossauro: o Bakiribu waridza gen. et sp. nov. 

A pesquisa foi publicada na revista Scientific Reports e conduzida por R. V. Pêgas et al.. O estudo está registrado sob o DOI 10.1038/s41598-025-22983-3.

O que o regurgito diz sobre o novo pterossauro

Dentro da concreção calcária onde o material foi preservado, os pesquisadores encontraram restos do pterossauro misturados a peixes. A composição indica que um predador de grande porte engoliu o pequeno réptil voador junto de suas presas, mas regurgitou parte do conteúdo, preservando o conjunto até o presente. Essa rara condição fossilífera fornece pistas diretas sobre a cadeia alimentar do paleo ecossistema da Formação Romualdo.

A análise estrutural dos fragmentos permitiu reconhecer características únicas. O Bakiribu apresentava:

  • Mandíbula extremamente alongada
  • Entre 110 e 142 dentes finos por lado, formando uma espécie de peneira natural
  • Pertencimento ao grupo Ctenochasmatinae, até então sem registros confirmados em regiões tropicais de Gondwana

Esses traços sugerem forte especialização ecológica e colocam a espécie como irmã evolutiva do Pterodaustro guinazui, conhecido anteriormente na Argentina.

Como esse pterossauro se alimentava

Descoberta amplia conhecimento sobre pterossauros filtradores antigos. (Foto: Gerada por IA via Gemini)
Descoberta amplia conhecimento sobre pterossauros filtradores antigos. (Foto: Gerada por IA via Gemini)

As estruturas dentárias revelam que o Bakiribu utilizava a técnica de filtragem, semelhante ao comportamento de certos animais marinhos atuais. Ao arrastar a mandíbula pela água, os dentes retinham pequenos organismos, garantindo uma dieta rica em partículas aquáticas.

A presença de peixes no regurgito fossilizado fortalece essa hipótese, indicando que esses ambientes eram diversos e interligados.

Importância científica da descoberta

Além de ampliar o registro geográfico dos Ctenochasmatinae, o estudo traz novos elementos para entender:

  • A dispersão desses pterossauros no Cretáceo Inferior
  • A evolução das estratégias alimentares no grupo
  • As relações predador-presa no paleoecossistema da Bacia do Araripe

O trabalho reforça o valor da Chapada do Araripe como uma das principais janelas para a paleontologia mundial e demonstra como evidências pouco convencionais, como material regurgitado, podem revelar espécies inteiras e comportamentos antes impossíveis de observar.

A identificação do Bakiribu waridza gen. et sp. nov., a partir de um vômito fossilizado, amplia significativamente o entendimento sobre os pterossauros filtradores e suas adaptações. 

Com dentes densos, mandíbula longa e hábitos especializados, essa espécie acrescenta uma peça essencial ao quebra-cabeça evolutivo dos répteis voadores que dominaram os céus do Cretáceo.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.