Planeta fóssil Ammonite surge e embaralha as pistas do possível Planeta Nove

Ammonite surge e complica a busca pelo enigmático Planeta Nove (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Ammonite surge e complica a busca pelo enigmático Planeta Nove (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A descoberta do objeto transnetuniano Ammonite, oficialmente catalogado como 2023 KQ14, reacendeu um dos debates mais intrigantes da astronomia moderna: a real existência do Planeta Nove. Pequeno, distante e extremamente antigo, esse novo “planeta fóssil” surge como uma peça inesperada no quebra-cabeça que descreve as primeiras eras do Sistema Solar. E, surpreendentemente, ele pode representar um balde de água fria para quem ainda espera encontrar um nono planeta gigante espreitando na escuridão.

Logo após o anúncio da descoberta, tornou-se claro que Ammonite ocupa um tipo de órbita que os modelos previam como “vazia”, um espaço onde um grande planeta hipotético deveria impor ordem gravitacional. Isso faz com que sua simples presença seja, por si só, uma pista poderosa sobre o passado caótico da nossa vizinhança estelar. Em resumo, o que sabemos até agora:

  • Classificação: corpo transnetuniano extremamente distante, do tipo sednoide;
  • Órbita: periélio de 66 UA e afélio que pode ultrapassar 430 UA;
  • Período orbital: aproximadamente 4 mil anos;
  • Tamanho estimado: entre 220 e 380 km de diâmetro;
  • Idade: formado há cerca de 4,6 bilhões de anos, no início do Sistema Solar.

Uma viagem ao passado escondida na escuridão externa

Novo planeta fóssil desafia teorias e redefine a fronteira do Sistema Solar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Novo planeta fóssil desafia teorias e redefine a fronteira do Sistema Solar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Objetos como Ammonite são considerados verdadeiras cápsulas do tempo. Por estarem tão distantes do Sol e sofrerem poucas perturbações gravitacionais ao longo de bilhões de anos, preservam traços da infância do Sistema Solar. Assim, estudar sua trajetória e sua composição é como recuperar páginas perdidas da história cósmica, páginas escritas antes mesmo de a Terra existir.

Além disso, sua órbita extremamente alongada e inclinada sugere que eventos violentos podem ter moldado a borda do Sistema Solar. A diferença absurda entre seu ponto mais próximo e mais distante do Sol indica que Ammonite já passou por regiões que deveriam estar “limpas” se um planeta massivo estivesse ali.

A peça que falta ou a peça que complica?

O ponto mais delicado é que Ammonite não segue o padrão dos outros sednoides conhecidos. Enquanto três deles apontam para direções semelhantes, sugerindo a presença de uma força ordenadora (possivelmente um planeta gigante ainda não observado), Ammonite rompe esse padrão. Ele atravessa regiões que deveriam estar alinhadas sob influência gravitacional do suposto Planeta Nove.

Ammonite pode ser a pista que muda tudo sobre o possível Planeta Nove (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Ammonite pode ser a pista que muda tudo sobre o possível Planeta Nove (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Esse comportamento inesperado abre duas grandes possibilidades. A primeira é que o Planeta Nove nunca existiu e a anomalia orbital dos sednoides pode ser apenas resultado estatístico de poucas amostras. A segunda, mais dramática, é que esse planeta realmente existiu, mas foi expulso do Sistema Solar há bilhões de anos por um encontro gravitacional extremo, desaparecendo rumo ao espaço interestelar.

Novos objetos poderão ser encontrados pelo Observatório Vera C. Rubin

O próximo grande passo será dado pelo Observatório Vera C. Rubin, no Chile. Com sua capacidade de registrar milhões de objetos em órbitas remotas, ele promete revelar novos corpos semelhantes a Ammonite, ou até mesmo fornecer as primeiras evidências diretas de um planeta ainda oculto.

Independentemente do desfecho, Ammonite limitou os possíveis esconderijos do Planeta Nove e reforçou a importância de investigar as zonas mais obscuras do Sistema Solar.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.