Quasar extremo surpreende cientistas ao emitir recorde de raios X no universo

Quasar ID830 exibe brilho extremo e quebra recorde em raios X (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Quasar ID830 exibe brilho extremo e quebra recorde em raios X (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Quasares costumam ocupar o topo da lista dos objetos mais energéticos já identificados no cosmos. Ainda assim, alguns deles conseguem extrapolar até mesmo esses limites astronômicos. É o caso do ID830, um núcleo ativo extremamente distante que acaba de ser classificado como o quasar radioluminoso mais luminoso em raios X já observado, segundo estudo disponibilizado no arXiv por Sakiko Obuchi e colaboradores.

As novas medições, obtidas com a missão Spektr-RG e diversos telescópios de solo, revelam um cenário energético tão intenso que ajuda a compreender fases raras da evolução de buracos negros supermassivos. O que você vai entender neste artigo:

  • O que torna o ID830 excepcional entre quasares distantes;
  • A evidência de que ele opera em regime super-Eddington;
  • A luminosidade extrema em raios X e ultravioleta;
  • Por que o objeto pode estar em fase de transição evolutiva;
  • O que essa descoberta significa para modelos de formação de AGNs.

Um farol cósmico além dos padrões conhecidos

O ID830 está localizado a um desvio para o vermelho de 3,43, o que significa que sua luz levou mais de 12 bilhões de anos para chegar até nós. Com base na análise multicomprimento de onda, o objeto apresenta luminosidade bolométrica próxima de um quindecilhão de erg/s, um patamar atingido por pouquíssimos AGNs.

Objeto distante surpreende ao operar em regime super-Eddington (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Objeto distante surpreende ao operar em regime super-Eddington (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Além disso, a luminosidade em raios X alcança aproximadamente 0,01 quindecilhões de erg/s, colocando o ID830 no topo entre os quasares radioluminosos já catalogados. Essa combinação indica que o buraco negro central está consumindo matéria em uma taxa acima do limite teórico de Eddington, produzindo uma razão estimada de 1,4.

As características físicas que intrigam os pesquisadores

As medições sugerem que o buraco negro central possui cerca de 440 milhões de massas solares, um valor alto, porém inferior ao de outros gigantes com bilhões de massas solares. O que realmente se destaca é o modo como esse objeto converte acreção em radiação.

Outro dado impressionante é a relação entre emissão ultravioleta e emissão de raios X, registrada em –1,2, maior do que a de outros quasares que também se encontram em fases de crescimento acelerado. Isso indica uma coroa extremamente energizada e um mecanismo incomum de dissipação de energia.

O ID830 também emite um jato poderoso, com potência cinética entre 1 e 10 quattuordecilhões de erg/s, comparável à própria luminosidade radiativa. Essa equivalência sugere forte acoplamento entre jato e meio interestelar, podendo influenciar a evolução da galáxia hospedeira.

Um quasar que pode estar mudando de fase

Os dados reunidos apontam que o ID830 representa um AGN em transição, possivelmente após um surto de acreção que energizou simultaneamente o jato e a coroa. Esse comportamento intermediário ajuda a preencher lacunas entre quasares típicos e os chamados little red dots, objetos pouco luminosos em raios X recentemente investigados por instrumentos como o JWST.

Com isso, o ID830 surge como um laboratório natural para explorar os estágios iniciais e extremos de crescimento de buracos negros supermassivos.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.