Brasileiros valorizam energia renovável, mas obstáculos limitam sua implementação doméstica

Brasileiros apoiam energia limpa, mas adesão prática ainda é baixa. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Brasileiros apoiam energia limpa, mas adesão prática ainda é baixa. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O debate sobre sustentabilidade avança rapidamente no país, e a ideia de adotar energia renovável ganha espaço em diferentes camadas da sociedade. No entanto, um dado recente expõe um contraste que chama atenção: embora a maior parte dos brasileiros reconheça o valor de fontes limpas, apenas uma parcela reduzida incorpora essa escolha ao cotidiano. Essa diferença significativa evidencia um desafio que vai além da conscientização, trata-se de transformar intenção em prática.

O levantamento ESG Trends 2025 mostrou que 76% das pessoas valorizam a energia limpa, mas somente 26% realmente a utilizam. O hiato é o maior entre os hábitos sustentáveis avaliados, revelando que barreiras econômicas, culturais e estruturais ainda impedem a transição energética em larga escala. Principais pontos sobre o cenário atual no país:

  • Forte consciência ambiental, mas baixa adesão prática;
  • Investimento inicial elevado continua sendo um entrave determinante;
  • Falta de informação técnica dificulta decisões individuais;
  • Infraestrutura nacional ainda não totalmente preparada para energia descentralizada;
  • Percepção de que o Brasil já possui matriz limpa reduz senso de urgência.

Comportamentos sustentáveis que pressionam por mudança

O estudo também analisou 24 hábitos que ajudam a reduzir impactos ambientais. A lista inclui desde medidas simples, como evitar desperdício de alimentos e reduzir o consumo doméstico de energia, até ações mais estruturais, como investir em empresas com impacto ambiental positivo ou optar por bancos que priorizam projetos éticos.

Gap entre intenção e ação revela desafios da transição sustentável. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Gap entre intenção e ação revela desafios da transição sustentável. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Esses hábitos revelam que a sustentabilidade não depende apenas de grandes investimentos, mas de um conjunto de decisões cotidianas capazes de ampliar o impacto coletivo. Porém, o ritmo de adesão ainda é lento, indicando que a consciência ambiental não está plenamente incorporada ao estilo de vida da população.

Por que a energia renovável ainda não avança?

Apesar do enorme potencial técnico, o país está entre os que mais recebem radiação solar no mundo, fatores econômicos e estruturais dificultam a expansão de painéis fotovoltaicos e outros sistemas domésticos. O custo de instalação continua alto para boa parte das famílias, e a burocracia regulatória impede a simplificação de processos.

Além disso, muitos brasileiros acreditam que, por o país ter uma matriz com grande participação de fontes hidrelétricas, a responsabilidade individual é menor. Essa percepção reduz a busca por alternativas próprias, deixando a transição energética dependente de incentivos públicos e avanços técnicos.

Desafios culturais e o papel da educação ambiental

Energia renovável avança no discurso, mas pouco muda no cotidiano. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Energia renovável avança no discurso, mas pouco muda no cotidiano. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Outro obstáculo importante está no comportamento social: a consciência ambiental existe, mas a prática só evolui quando há incentivos concretos. Programas de crédito, políticas públicas e campanhas educativas têm papel essencial para transformar o interesse em ação real.

O Brasil possui sol, vento e potencial para se tornar uma referência global em energia limpa. No entanto, o verdadeiro desafio é social e informativo. Diminuir a distância entre preocupação ambiental e adoção de tecnologias renováveis exige que governos, empresas e cidadãos recebam informações claras e acessíveis.

Para reduzir o enorme “gap” identificado, o país precisa acelerar estratégias que tornem a energia renovável mais acessível. Isso inclui financiamentos facilitados, incentivos fiscais, melhoria das redes elétricas, e políticas que aproximem a população das soluções disponíveis. A partir do momento em que informação, preço e infraestrutura se alinham, a mudança deixa de ser distante e passa a ser possível.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.