Queda vacinal abre caminho para retorno do sarampo

Baixa cobertura vacinal reabre caminho para novos surtos. (Foto: Getty Images via Canva)
Baixa cobertura vacinal reabre caminho para novos surtos. (Foto: Getty Images via Canva)

O sarampo, que por muito tempo esteve sob controle na maior parte do continente, voltou a preocupar autoridades sanitárias. A reintrodução da transmissão endêmica nas Américas revela como a queda na vacinação abriu espaço para o retorno de uma doença extremamente contagiosa. 

Embora o Brasil ainda mantenha a certificação de eliminação, o cenário exige atenção redobrada para evitar que surtos isolados se tornem mais frequentes.

Como a reclassificação nas Américas afeta o Brasil

A perda do status de região livre de circulação endêmica demonstra que o vírus encontrou condições para se manter ativo, especialmente após mais de um ano de transmissão contínua em território canadense. Esse fato, isoladamente, já aumenta o risco de novos casos importados.

No Brasil, entre janeiro e setembro de 2025, foram confirmados 34 casos distribuídos por sete estados. O Tocantins concentrou a maior parte das infecções, indicando que regiões com menor cobertura vacinal permanecem vulneráveis. 

Embora esses casos não representem transmissão sustentada, eles revelam que o vírus ainda encontra espaço entre não vacinados, agrupamento que cresce quando a adesão às duas doses diminui.

Por que o sarampo encontra brechas com tanta facilidade

Vírus altamente contagioso ameaça não vacinados. (Foto: Bilanol via Canva)
Vírus altamente contagioso ameaça não vacinados. (Foto: Bilanol via Canva)

Entre as doenças respiratórias, o sarampo está entre as mais transmissíveis. O vírus, capaz de permanecer suspenso no ar por longos períodos, alcança rapidamente pessoas sem imunidade. Uma única exposição pode contaminar nove em cada dez indivíduos não vacinados.

Os sintomas se iniciam com febre alta, mal-estar e manchas vermelhas que se espalham pelo corpo. A evolução pode incluir pneumonia, infecções neurológicas e risco elevado de morte, sobretudo em crianças. Além disso, mesmo após a recuperação, há um período de maior vulnerabilidade imunológica, no qual infecções secundárias se tornam mais comuns.

O impacto direto da queda na cobertura vacinal

Para manter a proteção coletiva, especialistas recomendam que 95% da população receba duas doses da tríplice viral. No entanto, as Américas fecharam 2024 com média de apenas 79% na segunda dose, número insuficiente para impedir a circulação do vírus.

No Brasil, apesar de algum avanço nos últimos anos, a cobertura permanece desigual. Em 2025, a primeira dose atingiu 91,5%, enquanto a segunda dose, essencial para bloquear a transmissão, ficou em 75,5%, bem abaixo do necessário. Nessas lacunas, formam-se grupos suscetíveis capazes de sustentar surtos quando há introdução do vírus.

Como impedir o retorno da transmissão contínua

Para manter a eliminação, o país precisa comprovar vigilância ativa, investigação de suspeitas e coleta oportuna de amostras. Casos importados não representam ameaça quando esses mecanismos funcionam plenamente.

A boa notícia é que o Brasil já demonstrou capacidade de resposta rápida e pode estancar novos surtos com vacinação contínua, busca ativa e informação confiável. O sarampo é totalmente evitável, desde que a população mantenha em dia as duas doses da tríplice viral e que a vigilância permaneça rigorosa.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.