Um fóssil recém-analisado está oferecendo pistas inéditas sobre a evolução dos cangurus e wallabies, os marsupiais mais icônicos da Austrália. Pesquisadores da Universidade de Flinders estudaram restos de Dorcopsoides fossilis, uma espécie extinta que viveu há cerca de sete milhões de anos, e descobriram que ela possuía adaptações essenciais para sobreviver em ambientes áridos, abrindo caminho para o sucesso dos cangurus modernos.
Publicado na revista Royal Society Open Science sob o título ‘Limb osteology and functional morphology of the extinct kangaroo Dorcopsoides fossilis (Macropodinae, Marsupialia) from Late Miocene central Australia’, o estudo conduzido por Isaac Kerr e Gavin Prideaux examina, pela primeira vez, todos os ossos dos membros da espécie, oferecendo uma análise detalhada da transição dos cangurus das florestas tropicais para os ambientes áridos.
O canguru que venceu a seca
No final do Mioceno, o centro da Austrália passava por grandes transformações ambientais: florestas densas deram lugar a territórios áridos e abertos.
O Dorcopsoides fossilis mostrou-se preparado para esses desafios:
- Pernas longas e musculosas, semelhantes às dos cangurus modernos, para saltos poderosos.
- Cauda arqueada, utilizada para equilíbrio durante a locomoção em terrenos secos.
- Corpo resistente, capaz de percorrer grandes distâncias em busca de alimento.
Essas características fizeram dele um verdadeiro desafiante da seca australiana, garantindo sua sobrevivência e preparando o caminho para a diversificação dos macropodíneos.
Uma ponte entre ancestrais e cangurus modernos

Os fósseis foram encontrados no campo fossilífero de Alcoota, Território do Norte, conhecido por sua riqueza paleontológica.
O D. fossilis combinava traços de:
- Wallabies-da-floresta, ainda encontrados na Nova Guiné.
- Grandes cangurus-cinzentos, indicando capacidade de salto eficiente e adaptação a habitats abertos.
Essa mistura de características mostra que o animal ocupava um ponto intermediário na evolução dos macropodíneos, representando a primeira evidência anatômica direta de adaptação a ambientes áridos no final do Mioceno.
Como o fósseis ajudam a contar a história evolutiva
O estudo demonstra que a capacidade de locomoção eficiente foi decisiva para que os cangurus se tornassem dominantes na Austrália.
O Dorcopsoides fossilis, com rosto fino, pernas longas e cauda curva, pode ser considerado um protótipo dos cangurus modernos, mostrando que mesmo espécies pequenas e resistentes desempenharam papéis cruciais na evolução.

