Cientistas alertam que jejum de 21 dias pode agravar o câncer; entenda

Ficar só na água não elimina células cancerosas. (Foto: Oleksandranames via Canva)
Ficar só na água não elimina células cancerosas. (Foto: Oleksandranames via Canva)

Nas redes sociais, surgem constantemente promessas de curas milagrosas para o câncer. A mais recente delas defende o jejum de água por 21 dias, alegando que a privação alimentar seria capaz de “matar de fome” as células cancerosas e purificar o organismo

Embora a ideia pareça natural e atraente, a ciência desmente totalmente essa teoria, e alerta que a prática pode ser perigosa.

O que realmente acontece com o corpo durante o jejum

Abster-se completamente de alimentos por longos períodos não elimina tumores nem estimula a cura. O jejum prolongado provoca queda nos níveis de glicose e eletrólitos, perda de massa muscular e desequilíbrio metabólico, comprometendo funções vitais.
Estudos recentes mostram que, embora períodos curtos de restrição alimentar possam ativar processos de autofagia e reparo celular, esses efeitos desaparecem rapidamente e não têm relação com a destruição de células cancerosas.

Além disso, as células malignas são altamente adaptáveis e conseguem encontrar novas fontes de energia mesmo diante da escassez de nutrientes. Em vez de enfraquecê-las, o jejum extremo pode fragilizar o sistema imunológico e reduzir a capacidade do corpo de combater o câncer.

Por que o jejum prolongado é perigoso

Falta de nutrientes pode agravar o câncer e atrasar o tratamento. (Foto: Kim Tatiana via Canva)
Falta de nutrientes pode agravar o câncer e atrasar o tratamento. (Foto: Kim Tatiana via Canva)

Um jejum de água de três semanas pode causar complicações sérias, como:

  • Desidratação e arritmia cardíaca;
  • Queda acentuada da pressão arterial;
  • Enfraquecimento muscular e fadiga extrema;
  • Deficiência de vitaminas e minerais essenciais.

Esses efeitos são ainda mais graves em pessoas que já estão debilitadas por doenças crônicas ou em tratamento oncológico.

Durante a quimioterapia ou radioterapia, o corpo precisa de energia e nutrientes para suportar os medicamentos e reparar os tecidos danificados. A falta de alimentação adequada potencializa os efeitos colaterais e pode reduzir a eficácia do tratamento.

O mito da “desintoxicação”

Grande parte do apelo do jejum vem da falsa crença de que o corpo precisa ser “limpo” de toxinas.
Na realidade, o organismo já possui sistemas naturais altamente eficientes para essa função. Fígado, rins, pulmões e pele trabalham continuamente para eliminar impurezas e manter o equilíbrio interno. Nenhum jejum prolongado substitui esses processos, e forçar o corpo com restrição extrema só o coloca em risco.

O que a ciência realmente diz

As pesquisas mais sérias sobre o tema analisam jejuns curtos ou intermitentes, de até 72 horas, e sob supervisão médica. Esses estudos exploram possíveis benefícios metabólicos, como melhora da sensibilidade à insulina e controle da inflamação, mas não envolvem jejuns extremos apenas com água.

O jejum de 21 dias é uma prática sem base científica e com potencial de causar danos irreversíveis.
O foco deve estar em alimentação equilibrada, hidratação adequada, sono regular e acompanhamento médico. Essas medidas fortalecem o corpo e apoiam o tratamento de forma segura, ao contrário de promessas enganosas que circulam nas redes.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.