Durante a COP30 em Belém, no Brasil, a atenção se voltou para os solos amazônicos, reconhecidos por seu elevado conteúdo de carbono orgânico. Esses solos profundos e escuros, além de férteis, indicam práticas ancestrais de enriquecimento com resíduos orgânicos e cinzas, mostrando como o carbono do solo pode ser usado de forma estratégica na mitigação do aquecimento global.
A importância do solo vai além da agricultura: ele é um dos maiores reservatórios de carbono da Terra, armazenando mais carbono do que atmosfera e vegetação juntos, representando tanto um risco quanto uma oportunidade no combate às mudanças climáticas.
Principais fatores que tornam o solo essencial para a ação climática:
- Trocas contínuas de carbono entre solo, plantas e microrganismos;
- Capacidade de armazenar grandes volumes de carbono a longo prazo;
- Melhoria da fertilidade e retenção de água com maior matéria orgânica;
- Potencial para reduzir emissões de gases de efeito estufa;
- Integração com práticas agrícolas e conservação de ecossistemas.
O ciclo do carbono no solo e impactos humanos
O carbono do solo é constantemente modificado por raízes vegetais, decomposição e atividades microbianas. Em condições naturais, esses fluxos são equilibrados. Contudo, desmatamento, degradação e uso inadequado da terra perturbam esse equilíbrio, liberando dióxido de carbono e metano. Estima-se que mudanças no uso da terra contribuam com cerca de 15% das emissões globais.

Reverter essa tendência requer restauração do carbono do solo, tornando os solos não apenas sumidouros de carbono, mas também aliados para agricultura sustentável e segurança alimentar.
Iniciativas globais e metas para o carbono do solo
A iniciativa “4 por 1000”, apresentada na COP21, trouxe visibilidade ao papel do solo na mitigação climática. A ideia era simples: um aumento anual de 0,4% no carbono do solo agrícola poderia compensar quase todas as emissões globais anuais de gases de efeito estufa.
Embora metas ambiciosas sejam desafiadoras, devolver carbono ao solo oferece benefícios adicionais:
- Aumento da capacidade de retenção hídrica;
- Melhora da ciclagem de nutrientes;
- Maior resiliência das plantações;
- Redução de erosão e degradação;
- Contribuição direta para mitigação climática global.
Desafios e perspectivas para políticas climáticas
Apesar do reconhecimento crescente, muitos compromissos nacionais ainda tratam o solo de forma indireta, mencionando apenas “saúde do solo” em contextos agrícolas ou de adaptação. Para alcançar resultados concretos, é necessário estabelecer metas explícitas de carbono no solo, com financiamento e monitoramento adequados.
Estudos recentes mostram que ações como restauração de pastagens e reflorestamento podem representar até 7% da redução de emissões necessária em países com alta emissão per capita, com potencial ainda maior em ecossistemas ricos em carbono, como turfeiras e florestas tropicais.
Solo fértil como estratégia na luta contra as mudanças climáticas
A COP30 reforça que solos férteis e ricos em carbono podem desempenhar papel estratégico na mitigação das mudanças climáticas. No entanto, seu impacto depende de ações rápidas para proteger ecossistemas e reduzir emissões de combustíveis fósseis.Em resumo, solos saudáveis e carbonizados de forma intencional podem ser grandes aliados climáticos, mas somente se forem integrados a estratégias globais de redução de gases de efeito estufa, garantindo resultados efetivos e sustentáveis.

