Um alerta climático inédito divulgado durante a COP30 acendeu o sinal vermelho para o futuro do Nordeste brasileiro. Segundo o Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (CEPAS), se as emissões de gases de efeito estufa continuarem elevadas, até 99% da região poderá estar sob clima árido ou semiárido até o final do século. O estudo utilizou 19 modelos climáticos globais para prever cenários futuros e constatou que o processo de aridização já está em curso.
O levantamento mostra que, mesmo em situações moderadas, o risco é expressivo: o aumento das áreas áridas e semiáridas será inevitável. No pior cenário, a transformação do Nordeste em um imenso deserto torna-se uma possibilidade concreta. Principais pontos do estudo:
- Até 57% do território pode se tornar árido até 2100;
- Outros 42% devem evoluir para condição semiárida;
- Ceará será o primeiro estado a sentir os impactos mais severos;
- Regiões subúmidas como Inhamuns e Cariri podem mudar de classificação nas próximas décadas;
- Gestão hídrica adaptativa será essencial para evitar colapso ambiental e social.
Ceará pode ser o primeiro estado do Nordeste a se transformar em deserto
O Ceará desponta como o epicentro do processo de desertificação, sendo a primeira área a enfrentar a aridez intensa. Locais que hoje ainda contam com certa umidade, como os sertões dos Inhamuns, Cariri e Jaguaribe, devem se tornar semiáridos já nas próximas duas décadas. Áreas litorâneas e serranas, por sua vez, ainda resistem, mas tendem a se fragmentar com o tempo.

Essa mudança afeta diretamente a recarga dos rios, a produtividade agrícola e a disponibilidade de água potável, impactando também a biodiversidade e o modo de vida das comunidades rurais. Sem políticas de mitigação, o estresse hídrico poderá se tornar permanente.
Água, tecnologia e políticas públicas: o tripé da adaptação
Os especialistas do CEPAS destacam que o futuro da região está nas mãos humanas. A transição climática pode ser atenuada com gestão inteligente dos recursos hídricos, uso de tecnologias de captação de água da chuva e políticas públicas voltadas à adaptação local.
Medidas como sistemas de irrigação eficientes, reuso de água e ampliação de programas comunitários de armazenamento hídrico são fundamentais para garantir a sobrevivência das populações rurais e a sustentabilidade agrícola.
Além disso, a integração entre ciência, governos e sociedade civil será decisiva para que o Nordeste não se torne o primeiro grande caso de colapso ambiental do Brasil.
Um futuro que ainda pode ser evitado
O relatório deixa claro que o avanço da desertificação não é um destino inevitável, mas um resultado das escolhas humanas. Políticas efetivas, baseadas em ciência e planejamento, podem reduzir os impactos e preservar ecossistemas únicos da Caatinga.
Sem ação imediata, contudo, o Nordeste poderá enfrentar um século marcado por secas prolongadas, perda de terras férteis e crises hídricas severas. O momento de agir é agora, enquanto ainda há tempo de transformar o cenário previsto para 2100.

