Spray nasal experimental inativa bactéria e bloqueia coqueluche de forma eficaz

Vacina nasal estimula imunidade local contra coqueluche. (Foto: Jacqueline Caballero Images via Canva)
Vacina nasal estimula imunidade local contra coqueluche. (Foto: Jacqueline Caballero Images via Canva)

O retorno da coqueluche, mesmo em países com alta cobertura vacinal, evidencia as limitações das vacinas atuais, que protegem contra formas graves da doença, mas não impedem a colonização nasal nem a transmissão. 

Um estudo publicado na Nature Microbiology pelo Trinity College Dublin apresenta uma solução inovadora: uma vacina nasal inativada por antibiótico que estimula imunidade local duradoura sem causar reações sistêmicas, abrindo caminho para uma nova era na prevenção da coqueluche.

Por que a coqueluche continua circulando?

Apesar de décadas de vacinação, a Bordetella pertussis persiste na população. Vacinas acelulares atuais previnem casos graves, especialmente em bebês, mas não bloqueiam a colonização do trato respiratório superior, permitindo que a bactéria continue a se espalhar. Isso reforça a necessidade de soluções que atuem diretamente no ponto inicial da infecção: a mucosa nasal.

Vacina inovadora e sem agulha

A nova formulação utiliza a bactéria inativada pelo ciprofloxacino, mantendo sua estrutura para que o sistema imune reconheça e responda sem risco de infecção. Aplicada via spray nasal ou aerossol, essa abordagem apresenta vantagens claras:

  • Imunidade local duradoura: protege pulmões e nariz
  • Segurança: não provoca inflamação sistêmica
  • Praticidade: dispensam-se agulhas e treinamento especializado
  • Potencial econômico: produção mais acessível e escalável

Resultados promissores em modelos pré-clínicos

Proteção respiratória duradoura com uma única dose. (Foto: Getty Images via Canva)
Proteção respiratória duradoura com uma única dose. (Foto: Getty Images via Canva)

Testes em camundongos demonstraram proteção total contra infecções respiratórias, incluindo a colonização nasal, mesmo com apenas uma dose. Animais previamente vacinados com a formulação tradicional também responderam positivamente ao reforço nasal. A imunidade observada durou pelo menos seis meses, sugerindo benefício prolongado, crucial para controlar a disseminação comunitária.

Potencial para outras infecções respiratórias

Além da coqueluche, a plataforma nasal inativada por antibiótico pode ser adaptada para outras bactérias respiratórias, como:

  • Streptococcus pneumoniae – causadora de pneumonias e meningites
  • Mycoplasma pneumoniae – responsável por infecções respiratórias prolongadas
  • Staphylococcus aureus – coloniza pele e mucosas
  • Mycobacterium tuberculosis – agente da tuberculose

Essa versatilidade torna o modelo uma candidata promissora para futuras vacinas de próxima geração, podendo reduzir custos e ampliar acesso global.

Segurança e eficácia sem inflamação sistêmica

Ao focar na imunidade mucosa, a vacina ativa células T locais sem disparar inflamação generalizada. Diferentemente das vacinas celulares tradicionais, não há elevação significativa de marcadores inflamatórios, garantindo proteção eficaz com menor risco de efeitos adversos.

A vacina nasal inativada por antibiótico representa um avanço significativo na prevenção da coqueluche. Com imunidade duradoura, aplicação prática e potencial de adaptação a outras bactérias respiratórias, essa tecnologia pode redefinir a forma como protegemos populações vulneráveis e controlar a disseminação da doença em larga escala.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.