Feridas crônicas podem ter solução com proteína ligada ao câncer, diz estudo

Proteína SerpinB3 acelera o fechamento de feridas na pele. (Foto: Getty Images via Canva)
Proteína SerpinB3 acelera o fechamento de feridas na pele. (Foto: Getty Images via Canva)

A cicatrização da pele é um processo complexo que envolve múltiplos sinais moleculares e celulares. Recentemente, pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona descobriram que a proteína SerpinB3, antes conhecida apenas por sua presença em tumores agressivos, desempenha um papel crucial na regeneração cutânea

Publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o estudo mostrou que essa molécula é ativada logo após uma lesão, ajudando as células a reconstruírem o tecido epitelial de forma eficiente.

Como a SerpinB3 auxilia a pele a se recuperar

A SerpinB3, também chamada antígeno de carcinoma de células escamosas 1 (SCCA-1), era utilizada principalmente como marcador tumoral em cânceres de fígado, pulmão e cabeça e pescoço. No entanto, experimentos com tecidos humanos e modelos animais revelaram seu papel natural na cicatrização:

  • As células na borda da ferida aumentam rapidamente a produção de SerpinB3.
  • A proteína torna as células mais móveis e menos aderentes, facilitando que cubram a área lesionada.
  • Esse comportamento lembra a transição epitélio-mesênquima, comum na regeneração e também observada em tumores.

Em camundongos, a versão equivalente, chamada Serpinb3a, acelerou o fechamento das feridas e melhorou a organização das fibras de colágeno, essenciais para a estrutura da nova pele.

SerpinB3 como “interruptor molecular”

Feridas crônicas podem se beneficiar da ação da SerpinB3. (Foto: Getty Images via Canva)
Feridas crônicas podem se beneficiar da ação da SerpinB3. (Foto: Getty Images via Canva)

Os cientistas descrevem a proteína como um interruptor molecular:

  • Em condições normais, promove a regeneração da pele.
  • Em tumores, o mesmo mecanismo pode ser sequestrado, ajudando células malignas a proliferar e invadir tecidos.

Esse duplo papel explica sua abundância em cânceres agressivos e ajuda a compreender melhor a biologia tumoral.

Implicações para tratamentos de feridas crônicas

A descoberta da SerpinB3 abre novas possibilidades terapêuticas, especialmente para feridas de difícil cicatrização, como úlceras diabéticas e queimaduras graves:

  • Estimular a produção natural da proteína
  • Aplicar versões seguras da SerpinB3 para acelerar a regeneração
  • Potencial melhoria na qualidade e resistência do tecido cicatrizado

Apesar do potencial, os pesquisadores alertam que aumento artificial da proteína ainda precisa de estudos para avaliar segurança e evitar proliferação celular excessiva.

O estudo redefine a SerpinB3: de marcador tumoral para um agente natural de cicatrização, mostrando como moléculas associadas ao câncer podem ter funções biológicas essenciais e inesperadas. Essa descoberta pode inspirar novas terapias para regeneração tecidual, equilibrando segurança e eficácia, e oferecendo esperança para pacientes com feridas crônicas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.