Cientistas descobriram um mecanismo inédito que explica por que algumas ilhas oceânicas contêm materiais continentais, mesmo estando longe das bordas tectônicas. O estudo, publicado na Nature Geoscience e liderado pela Universidade de Southampton, mostrou que fragmentos de continentes podem ser lentamente arrancados de suas raízes profundas e arrastados para o manto oceânico, alimentando vulcões por dezenas de milhões de anos. Principais achados do estudo:
- Fragmentos continentais desprendem-se a profundidades de 150 a 200 km;
- O material é transportado lateralmente por mais de 1.000 km até o manto oceânico;
- Este processo gera atividade vulcânica prolongada longe das bordas tectônicas;
- Ondas mantélicas lentas continuam reorganizando o manto após a separação dos continentes;
- A assinatura química do material continental persiste por dezenas de milhões de anos.
Como os continentes se desprendem por baixo
Ao contrário do que se pensava, os continentes não se separam apenas na superfície. Forças tectônicas profundas criam instabilidades chamadas de ondas do manto, que varrem a base continental, desprendendo gradualmente fragmentos de rocha. Esse movimento ocorre a uma velocidade extremamente lenta, aproximadamente um milionésimo da velocidade de um caracol, mas com efeito significativo ao longo de milhões de anos.
O papel das ondas mantélicas na vulcanologia oceânica

Essas ondas transportam material continental enriquecido para regiões do manto oceânico, onde alimentam erupções vulcânicas em ilhas distantes. Diferentemente das explicações tradicionais, que apontavam plumas mantélicas ou sedimentos reciclados como responsáveis, este novo modelo mostra que a própria dinâmica do manto pode gerar volumes significativos de magma enriquecido.
Estudos geoquímicos em regiões como a Província de Montes Submarinos do Oceano Índico, formados após a fragmentação do supercontinente Gondwana, confirmam essa hipótese. Após a separação continental, uma onda de magma enriquecido emergiu, deixando assinaturas químicas persistentes que ainda podem ser detectadas milhões de anos depois. Isso comprova que o manto oceânico carrega memória química dos continentes antigos.
Implicações para a geologia e vulcanologia
Esta descoberta transforma a compreensão da dinâmica do manto terrestre e da formação de vulcões oceânicos. O desprendimento de fragmentos continentais e seu transporte pelo manto não apenas explica a presença de elementos continentais em ilhas oceânicas, mas também abre novas perspectivas sobre como processos lentos e contínuos moldam a crosta terrestre em escala global.
Em suma, a pesquisa mostra que os continentes continuam influenciando o manto e a vulcanologia oceânica muito tempo após sua separação, revelando uma conexão profunda entre tectônica e vulcanismo em locais remotos.

