Imagem inédita mostra o campo magnético do Sol como nunca antes visto

Sonda Solar Orbiter capta imagem inédita do campo magnético do Sol (Imagem: European Space Agency)
Sonda Solar Orbiter capta imagem inédita do campo magnético do Sol (Imagem: European Space Agency)

Pela primeira vez, os cientistas conseguiram observar o campo magnético do Sol em movimento com um nível de detalhe nunca alcançado. A conquista veio da Sonda Solar Orbiter, da Agência Espacial Europeia (ESA), que ajustou sua trajetória para captar imagens inéditas da região dos polos solares, uma área até então praticamente invisível para a ciência.

A descoberta representa um salto no entendimento do funcionamento interno da nossa estrela, especialmente em relação à forma como seu magnetismo se comporta durante o ciclo solar de aproximadamente 11 anos. Entre os principais achados estão:

  • Primeira imagem detalhada do campo magnético solar em movimento;
  • Observação direta dos polos do Sol, região até então inexplorada;
  • Identificação de fluxos magnéticos mais rápidos do que o previsto;
  • Detecção de supergrânulos, estruturas de plasma com até três vezes o tamanho da Terra;
  • Indícios de uma “teia magnética” que se move rumo aos polos.

A sonda que desafiou os limites do Sistema Solar interno

Desde 2020, a Solar Orbiter viaja em órbitas elípticas ao redor do Sol, mas em 2025 fez algo inédito: alterou seu plano orbital para observar o astro sob um ângulo inclinado de 17 graus, o que possibilitou uma visão privilegiada dos polos. Essa manobra permitiu registrar o comportamento das linhas do campo magnético e os fluxos de plasma que as transportam pela superfície solar.

Polos solares revelam movimento surpreendente do campo magnético (Imagem: ESA & NASA / Solar Orbiter / Equipe EUI)
Polos solares revelam movimento surpreendente do campo magnético (Imagem: ESA & NASA / Solar Orbiter / Equipe EUI)

Os dados coletados entre 16 e 24 de março foram analisados e descritos em um estudo publicado na revista Astrophysical Journal Letters. O resultado revelou uma dinâmica polar surpreendente, com velocidades de até 20 metros por segundo, muito acima das estimativas anteriores.

Um retrato magnético do Sol como nunca antes visto

A imagem obtida mostra uma rede de supergrânulos solares, gigantescas células de plasma quente que cobrem a superfície do Sol. Esses fluxos horizontais empurram as linhas do campo magnético até suas bordas, formando uma estrutura semelhante a uma teia. Essa teia magnética se desloca gradualmente para os polos, um processo essencial para compreender os ciclos de atividade solar e as tempestades geomagnéticas que impactam a Terra.

Ainda não está claro se o movimento se desacelera nas regiões mais próximas aos polos, mas o avanço já fornece um novo modelo para explicar o comportamento do campo magnético solar, um dos fenômenos mais complexos e influentes do Sistema Solar.

O impacto dessa descoberta na compreensão do Sol

Essas observações oferecem pistas valiosas sobre como o campo magnético solar se renova e se reorganiza a cada ciclo. Compreender esse processo é crucial não apenas para a astrofísica, mas também para a previsão do clima espacial, que influencia satélites, comunicações e redes elétricas na Terra.

A imagem inédita capturada pela Solar Orbiter marca o início de uma nova era na observação solar, em que a ciência se aproxima, literalmente, do coração magnético do Sol.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.